21 abril 2014

Uma amizade improvável e os riscos do "PRÉ-CONCEITO"

Trudi e Kiki
texto e ilustrações: Eva Furnari
editora: Moderna

Preciso confessar algo quase inconfessável para um amante da literatura infantil brasileira: eu não gostava de Eva Furnari (o verbo no passado talvez me ajude a ter quem termine de ler este post). Pois é. Quando comecei a querer conhecer e ler um pouco mais sobre literatura infantil, fui com enorme ânsia buscar as referências da área. Claro, queria conhecer os grandes autores e ilustradores, reconhecer seu estilo, seu traço. E foi assim que cheguei aos livros de Eva Furnari - é, eu devo ter tido contato com eles quando criança, mas confesso, não me recordava.

Bom, comecei como ela começou, pelos livros ilustrados, sem textos. Minha filha era uma bebezona e eles eram perfeitos para ela. Mas confesso, nunca fizeram muito sucesso, nem com ela, nem comigo. Embora as imagens e as histórias fossem bastante engraçadas, eu achava chato, e o pouco interesse da filhota não me animava muito. Fiquei um tempo sem lembrar deles, até que, com a filha conseguindo se concentrar em leitura, procurei seus livros com texto. Tentei um, dois e resolvi dar meu veredito: eu não gostava dos livros de Eva Furnari! E isso era um segredo secretíssimo, afinal, era certo que o problema estava comigo, não com suas obras, sempre tão admiradas e alardeadas. Segui com isso na cabeça e passei a ignorar os seus livros, onde quer que estivessem.

Até que a filha, sempre mais sábia que a mãe, resolveu trazer Trudi e Kiki na mochila da escola. Bom, não dava para ignorá-lo, principalmente porque a pequena estava interessadíssima em ouvir sua história. E eu li. E não acreditei em como o livro era tão, tão, tão bom. Li várias vezes, acho que para ter certeza. E tratei de catar outros na minha livraria favorita, e li vários, um após o outro, sentadinha entre as estantes. Sim! Eu gostava de Eva Furnari! Gostava muito! E sabe, a filha também!

Trudi e Kiki nem é o nosso favorito, mas achei justo introduzir Eva Furnari aqui no Cachinhos por ele, afinal, foi com a história divertidíssima dessas duas meninas, tão parecidas e tão diferentes, que deixei meu PRÉ-CONCEITO de lado e me dei uma nova chance de conhecer suas maravilhosas obras!

Trudi e Kiki são duas meninas muito parecidas, elas têm a mesma idade e a mesma altura, além do mesmo estilo de cabelo: ruivo e chanel. Trudi e Kiki são duas meninas muito diferentes, e a maior diferença entre elas é que... uma é bruxa e a outra não. Uma mora em Biribin e fala biribês. A outra mora em Burux, uma cidade de bruxos, e fala buruxês (que se fala fazendo biquinho com a boca). As montanhas separam as duas cidades, mas um dia, o convite de uma festa de dia das bruxas voou de uma para a outra, por cima das montanhas, e causou uma grande confusão. O livro é muito divertido e sua história pra lá de interessante. Mas o mais divertido mesmo são os convites e os diálogos que se estabelecem nas línguas das duas cidades. Um barato! A pequena bolava de rir! Clica na imagem para ler os convites:

imagem tirada daqui


Bom, mas depois de muita confusão, Trudi e Kiki descobrem que continuam com seus gostos e desgostos parecidos, e pela primeira vez, uma garota de Biribin virou amiga de uma bruxinha de Burux, e elas passaram a falar o biriburux, uma língua que só elas mesmas entendiam. Um ótimo livro para abrir espaço para uma conversa sobre amizades, sobre o que nos aproxima e nos diferencia. Sobre tolerância e PRÉ-CONCEITOS. Espero ter aprendido minha lição... não disse que os livros infantis podem nos surpreender?

Ah, e Trudi e Kiki ganharam uma versão em vídeo. Advinha? Maravilhosa também. É uma parceria linda de Eva Furnari com Kodo, apoiada pelo Governo de São Paulo. E o vídeo ganhou o terceiro lugar no Festival Prix Jeunesse em 2011! Imperdível! 


E o melhor é que vem mais Eva Furnari em vídeo por aí - confere uma entrevista onde ela explica tudinho aqui.