09 dezembro 2019

A morte, a vida e um desabafo

O urso e o gato-montês
texto: Kazumi Yumoto
ilustrações: Komako Sakai
editora: Outono

Como abordar com uma criança um tema tão difícil para nós, ocidentais, quanto a morte? Talvez a maioria até pense que isso seria desnecessário, afinal, infância não combina com algo tão triste assim. Eu mesma já pensei isso. Logo eu, que tive que conviver com a morte de forma tão próxima no início da adolescência. É como se negar a finitude da vida e do que está ao nosso redor os tornasse infinitos.

Mas não torna. Afinal, a morte é a única certeza, não é? E seguimos ignorando esse princípio básico, quase uma cláusula pétrea no contrato da vida. Preferimos esquecer tudo o que tivemos enquanto houve vida, e só pensar no que perderemos pelo seu fim. Isso dificulta um bocado as coisas, e por isso acho que esse livro deveria ser lido por todos, independente da idade.

Ele foi escrito e ilustrado por japoneses, e gosto de pensar que talvez por isso tenha uma dose tão equilibrada de sensibilidade e lucidez na abordagem do tema. Ele traz a trajetória que o urso teve que percorrer para passar pelo luto da perda de seu melhor amigo, e sair do outro lado para seguir sua vida. Um livro que fala da morte sem rodeios, mas também sobre amizade, companheirismo e lealdade, e sobre algo que é imprescindível para superar a dor de uma perda: o reconhecimento desse sentimento. O luto faz parte da vida, e por mais doloroso que seja, qualquer que seja a idade, precisa ser vivido.

Eu tinha 13 anos quando minha mãe se foi. Minha irmã caçula tinha 4 anos, e coube a mim, por uma circunstância, explicar a ela que não, a mamãe não voltaria, nós não a veríamos. Nunca mais. Ela já sabia da morte, mas não tinha conseguido entender o que aquilo significava. Eu poderia ter chamado um adulto, eles estavam no cômodo ao lado, mas preferi explicar eu mesma, da maneira que me foi possível. E consolar o choro sofrido que veio com a minha resposta. Já não lembro exatamente o que disse, mas sei que continha céu e estrelinhas.

Eu também sentia falta da mamãe, e também não entendia muito bem onde aquilo nos levaria. Talvez não devesse ser assim, mas foi. Por isso ressignificar o luto e a perda é essencial para seguir vivendo - assim como fez o urso. Porque toda perda envolve uma parte que vai e outra que fica. E se algo ficou é porque a vida precisa continuar...

22 novembro 2019

Malévola e o poder das sombras

Vou, com esse post, retomar a sessão O que os cachinhos assistem, que acabou sendo tão pouco usada. Sim, no cabeçalho do blog temos as sessões O que os cachinhos leemO que cachinhosouvemO que os cachinhos assistemO que os cachinhos curtem, possibilitando que eu traga percepções sobre obras escritas, cantadas, filmadas e o que mais nos movimentar.


Tenho que admitir que Malévola mexe muito comigo. Ainda lembro do dia que decidi assistir seu primeiro filme. Estava indo para o trabalho e vi um outdoor no caminho com aquela foto impactante de Angelina Jolie com chifres e um olhar perturbador. Não tinha a menor ideia do que se tratava, mas arrastei o marido ao cinema naquele mesmo dia. Foi já assistindo o filme que me dei conta que a protagonista era a fada má que amaldiçoa a Bela Adormecida.

Adoro quando um personagem de ficção faz isso comigo. Acho a história do filme interessante, de fato, mas é ela, Malévola, quem rouba toda a minha atenção. Os fatos e personagens só dão os contornos necessários para que ela se mostre. E isso acontece, claro, porque rola comigo uma identificação clara e imediata com essa figura tão controversa quanto encantadora.

Como Malévola se deixa tomar por seus instintos mais perversos e traz a tona pela primeira vez toda a sombra que há em si. E como Malévola, apesar de toda a dor e mágoa, se permite, no seu íntimo, fazer o amor renascer. No segundo filme, o claro dilema entre o bem e o mal, a luz e a sombra, encarnado dentro da mesma personagem, fica ainda mais forte. Malévola me traz a difícil lembrança de que somos, cada um de nós, o encontro dessas duas poderosas forças. E que fugir ou esconder essa realidade, por mais dolorosa que seja, só causa mais sofrimento e dor.


Há algum tempo ouvi no canal de Rossandro Klinjey sobre quanta energia gastamos para esconder de nós mesmos as nossas sombras. Energia que nos falta para agir positivamente sobre elas. Energia que podia ser usada para encará-las com serenidade, com acolhimento, com autoaceitação. Perceba que isso é mais do que reconhecer-se imperfeito, assumir defeitos. Minha inveja, meu ciúme, minha mesquinharia, meu egoísmo (e vou parar por aqui para não assustar ninguém)... são parte do que sou, ajudam a estruturar meu eu, e se podem me colocar em atitudes reprováveis, podem também me movimentar para atitudes positivas e amorosas – comigo mesma ou na relação com os demais.

Porque nossas sombras são forças poderosas, assim como as de Malévola, que podem destruir, amaldiçoar e ferir profundamente - e escondê-las só potencializa seu poder destrutivo. Mas quando são levadas à luz, olhadas e acolhidas, podem ser usadas para construir e prosperar. Só quando você se olha como um todo, como sombra e luz, é capaz de fazer o exercício que Malévola é levada ao final do filme: “nunca esquecer quem você é”.


Desse ponto em diante esse texto traz alguns spoilers sobre o segundo filme, Malévola: Dona do Mal. Se não assistiu o filme ainda, talvez seja melhor não avançar com a leitura.

No segundo filme, identifico a simbologia dessas questões claramente no momento em que Malévola é levada a esconder quem é, suas origens e suas sombras, e se mostrar como os outros (os humanos) esperam que ela seja. Entretanto, é aí que ela é confrontada e tem suas fragilidades expostas com crueldade – fazendo com que suas sombras a dominem e sua reação seja feroz. Para mim, uma clara alusão ao poder nefasto que surge quando as sombras são escondidas.

A partir desse momento, todos, inclusive Aurora, a enxergam apenas por suas sombras. Ela é o mal, a treva, a destruição – e precisa ser aniquilada. Mas a história dá uma reviravolta quando Malévola se reencontra com sua ancestralidade, suas origens. Encontra outros seres alados e de chifres, como ela, percebe de onde vem, entende a origem de muitas de suas sombras. Não é um encontro fácil. Há dor e ressentimentos, e a ideia de vingança parece em alguns momentos ser a única saída.


Reconhecer nossa ancestralidade e a origem das sombras que carregamos, é fundamental no processo de autoconhecimento. É a partir daí que passa a ser possível entender e acolher o nosso verdadeiro EU, e fica muito mais claro escolher o caminho a seguir. Malévola faz sua escolha, e então a transformação pode acontecer. A simbologia desse momento no filme me tocou profundamente, pois utiliza a figura da fênix, o pássaro que ao morrer, queima e ressurge das próprias cinzas.

Há muitos anos, quando ainda estava na faculdade, participei de uma atividade terapêutica e ouvi de um colega do grupo que eu o fazia lembrar a fênix, com meus processos de recomeço e transformação, e isso me marcou profundamente e de maneira muito positiva. Desde aí a figura da fênix sempre me inspira. Ver Malévola, morta pelo ódio que despertou, queimar e ressurgir das cinzas na forma de uma fênix gigante foi para mim o ápice dessa intrigante viagem pela personalidade e conflitos da personagem.

O final do filme, quem assistiu sabe, deixa claro que Malévola constrói um equilíbrio entre suas luzes e sombras, e pode finalmente transitar livremente entre os papéis que escolheu assumir: a mãe da humana Aurora e um ser das trevas.

11 novembro 2019

As delícias e desafios de se reinventar

Malvina
textos e ilustrações: André Neves
editora: DCL

O aniversário da pequena está chegando, e como todos os anos, isso me deixa sensível, saudosa e reflexiva. Será seu 13º aniversário, de pequena ela já não tem nada, mas a sensação de renascimento em mim permanece. Lembro do quanto ela foi aguardada e desejada. Lembro do quanto tive medo de não dar conta. Lembro de quantas alegrias e tristezas já vivemos juntas. Lembro do quanto tive que aprender. Aliás, desaprender para aprender diferente, na maior parte das vezes. Foi um aprendizado imenso para nós duas. E por isso acho que renasço a cada novembro que vivo.

Este ano, dentre as muitas reflexões que fiz, me peguei pensando o quanto já errei com ela. Sim, errar era e continua sendo a única certeza que tenho deste que embarquei nessa de ser mãe. Mas essa certeza não reduz o desejo de errar pouco, ou pelo menos de acertar mais. E a culpa materna, essa implacável que está quase sempre presente, mesmo que sutilmente, fica do meu lado nessas horas, me ajudando a lembrar que ela passa tempo demais nas telas, que ao longo desse ano eu fiquei ausente muitas noites trabalhando e que já não tenho o mesmo ânimo do passado para atividades culturais ou ao ar livre com ela... pffff... verdades difíceis de assumir.

Estava perdida nos meus pensamentos quando, passando pela estante, Malvina me sorriu alegre. Por que Malvina é assim, um sopro de alegria. Ela é uma menina que vive a inventar coisas legais, como o aparador de sorvete, o guarda-chuva para sapatos e o chapéu ventilador. Uma menina com tanta criatividade e imaginação que contagia a todos. Bom, a quase todos. É que se Malvina é boa em inventar, a mãe de Malvina é boa em se preocupar. Ela fica preocupada com as invenções da filha, claro, mas nem tem tempo de se demorar muito nessa preocupação, porque ela tem muitas outras, como a casa, as notícias do jornal e em não pisar em formigas. E ela se preocupa principalmente com o que os vizinhos pensam das suas preocupações - o que é muito comum em pessoas preocupadas.

Foi por isso que Malvina decidiu inventar a maior das suas invenções: uma máquina de despreocupação! Uma máquina para resolver todos os problemas do mundo, e então deixar sua mãe despreocupada. Mas a máquina não funcionou. E pior, aconteceu algo terrível com Malvina: ela perdeu todas as suas ideias, e ficou com a cabeça completamente vazia. E agora, o que ela faria sem invenções? Foi quando a mãe viu Malvina preocupada de verdade pela primeira vez na vida que ela resolveu que tinha que inventar algo para ajudar a filha, e fez uma invenção que realmente funcionou. E terminou o dia sem preocupação alguma.

Malvina diz tanto sobre essa relação mãe e filha, desse jeito simples e encantador que apenas bons livros infantis são capazes. Hoje foi ela quem me aqueceu o coração, ao me lembrar o quanto propiciei criatividade e imaginação nos primeiros anos da minha pequena adolescente. As brincadeiras com caixas, tintas, tampas de panelas e o que mais surgisse. As ideias para o natal ou para presentear os primos. As histórias, os teatrinhos, as conversas viajantes. Tantas risadas contagiantes. Inventar sempre foi uma prioridade respeitada nessa casa.

Mas como a mãe de Malvina, em alguma curva da vida, me deixei inundar com preocupações, inclusive aquela inevitável para os preocupados. As vezes sinto que não consigo parar as preocupações, que elas se emendam umas nas outras. É, vou ter que inventar a maior invenção de todas: me reinventar! Quem sabe assim eu não termino o dia sem uma preocupação sequer?

03 novembro 2019

Para nunca esquecer...

Elefantes nunca esquecem!
texto: Anuska Ravishankar
ilustrações: Christiane Pieper
editora: Manati

Um grande e assustador temporal faz um filhotinho de elefante perder-se de sua manada, deixando-o sozinho na floresta, assustado e indefeso. As coisas iam muito mal até que ele chega a um rio onde uma manada de búfalos se refresca e mata a sede. Mesmo assustado no início, ele começa a interagir e se divertir com um filhote de búfalo, mas um perigo aparece e todos precisam fugir. É nesse momento de fragilidade que os búfalos o acolhem, e daquele momento em diante o elefantinho perdido passa a fazer parte da manada de búfalo. Mesmo tendo orelhas muito grandes, focinho comprido demais, cor esquisita e não conseguindo mugir, foi com os búfalos que ele se sentiu em casa, pertencente a uma família.



Até o dia em que, já adulto, se refrescando com os búfalos em um rio, uma manada de elefantes se aproxima. E entre BARRRAAAM e MUUUUUUU ele fica dividido sobre quem ele é afinal: elefante ou búfalo? Ah, mas, no fim, a resposta era uma só...

Fiquei apaixonada por essa história, contada pela indiana Anuska Ravishankar desde a primeira vez que a li, de pé numa livraria. E na mesma hora me veio à mente como ela poderia ajudar numa conversa sobre inclusão e adoção. Por isso ele foi o presente para uma menininha muito querida por nós, e que faz parte de uma família por meio de laços muito mais fortes e importantes que os de sangue: os feitos pelo amor!

Acho que os livros infantis são instrumentos maravilhosos para nos ajudar a ter conversas por vezes difíceis - muitas vezes mais difíceis para nós, adultos, que para eles, crianças. Ou mesmo que não haja exatamente uma conversa, pode ajudar a fazer pensar e processar coisas que ficam quietinhas e doídas no peito. Foi assim com Menina Bonita do Laço de Fita, livro maravilhoso que fala sobre diferenças raciais e que eu contei aqui como nos ajudou.



Elefantes nunca esquecem! é um livro para nos lembrar o que realmente importa ser lembrado nessa vida, o que faz sentido na nossa trajetória. A resposta pode ser muito simples, mesmo que seja na contramão do que se convencionou achar...



28 outubro 2019

Não julgue um livro pela capa... Não julgue um menino pela cara...

Extraordinário
texto: R. J. Palacio
ilustrações/Capa: Tad Carpenter
tradução: Rachel Agavino
editora: Intrinseca

Sei que esse é um livro que a maioria já conhece, e se não o leu ainda provavelmente já assistiu sua adaptação para o cinema. Mesmo assim, sei que ele é perfeito para o meu retorno ao Cachinhos. Extraordinário é especial demais para mim, e não faltam motivos para isso.

Eu já tinha visto sua capa algumas vezes nas livrarias, físicas e virtuais, mas confesso que nunca me interessei por ele. Novamente meus preconceitos idiotas! Associei, sabe-se lá porquê, a algumas coleções de livros bobos para adolescentes que tinha tido contato antes. Tem muita coisa ruim sendo publicada para esse público, não muito diferente do que acontece com os infantis, e o motivo é quase sempre o mesmo: subestimar as crianças e adolescentes, tratando-os como incapazes de compreender ou aproveitar uma leitura inteligente e/ou sensível. Nem tenho paciência para isso. De qualquer modo, no final das contas, a boba fui eu, de ter perdido a oportunidade de conhecer antes esse livro lindo. Ainda bem que a vida deu uma mãozinha e arranjou um jeito maravilhoso dele chegar até mim.

A filha e um coleguinha da escola estavam fazendo um curso juntos nas manhãs de sábado. Nós e a mãe do menino nos revesávamos numa carona solidária, e naquele dia acertamos que seríamos nós a levá-los e buscá-los, já que precisávamos levar o carro à oficina que ficava perto do curso. Pois bem, os deixamos na porta do curso, e ele acabou deixando no carro um livro que tinha pego na biblioteca da escola, e eu o fiquei folheando enquanto o marido dirigia até a oficina. Seriam algumas horas até o serviço terminar e irmos pegá-los novamente. E foi por puro tédio que comecei a ler Extraordinário, sentada em um banquinho de plástico, entre mecânicos e peças de carros.

O livro traz a história de August, um menino diferente. Portador de mutações raras, ele tem uma síndrome que deixou seu rosto disforme. Para além da sua aparência, Auggie teve que lutar pela vida desde que nasceu, e as diversas cirurgias que fez, além de garantir melhor qualidade para sua vida, como a capacidade de respirar e se alimentar sem a ajuda de aparelhos, o deixaram longe da escola durante os seus primeiros 10 anos. É nesse ponto que a história começa, com a estabilidade do seu quadro clínico e a possibilidade de ele ingressar numa escola regular.

Mesmo quem não leu o livro ou assistiu o filme pode imaginar os desafios que um menino de 10 anos que até então só tinha tido aulas em casa com a mãe e tem um rosto que causa reações de medo, repulsa e até nojo, teve ao entrar no 5º ano de uma escola tradicional. Mas preciso contar o que me deixou mais encantada com a história de R. J. Palacio: a proposta de contar uma história tão forte quanto essa pela versão dos seus diferentes personagens. Simplesmente amo esse tipo de abordagem. Assim, o livro é estruturado em oito partes, três com a narração de August, e cinco a partir da visão de outros personagens, como sua irmã Via; o namorado dela, Justin; a amiga de Via, Miranda; e Summer e Jack, amigos novos da escola de Auggie. Perceba que nenhum dos narradores é adulto! Toda a história é contada por personagens na infância e adolescência.

Achei essa proposta fantástica por dois motivos. Primeiro porque nos lembra que tudo que acontece tem sempre pelo menos dois lados - na verdade tantos lados quanto forem as pessoas envolvidas naquilo. Então é possível entender melhor o que leva alguém a uma atitude cruel ou egoísta, ou a uma atitude de fraqueza ou covardia. Me fez lembrar como precisamos de muito mais empatia para entender os acontecimentos da vida sem julgamentos e injustiças.

O segundo motivo é porque, embora a história toda gire em torno de August e sua trajetória pelo seu primeiro ano de escola, cada personagem traz sua versão cheia de questões próprias, e então o foco não fica tão pesado sobre ele. A história é leve e cheia de possibilidades. Não é a síndrome ou o rosto de Auggie, é como cada um, de acordo com suas memórias e bagagens, medos e angustias, encara a sua relação com ele, e como isso se conecta com diversos outros fatos de suas vidas. Não é simplesmente um livro sobre bullying, ou sobre os sofrimentos de uma pessoa com uma síndrome rara, é um livro sobre sentimentos, sobre relacionamentos, e sobre exercitar se colocar no lugar do outro. Adoro lembrar que esse emaranhado tão sensível e complexo foi pensado para o público infanto-juvenil, com todo o respeito e seriedade que eles merecem!

Fonte: www.intrinsica.com.br

Preciso dizer que a história de August rendeu outros três ótimos livros. Auggie e Eu eu comprei logo depois de ler o primeiro, absolutamente empolgada com a história. Mas como bem destaca a autora, não se trata de uma continuação do primeiro livro, mas a versão da mesma história contada por três personagens importantes que não tiveram voz na primeira publicação: Julian, o garoto que desencadeia uma sequência de crueldades com Auggie; Christopher, o seu primeiro amigo e Charlote, uma amiga da escola que sempre se manteve "neutra". O  Somos Todos Extraordinários é uma versão mais infantil, abordando o tema de uma maneira ainda mais leve para os menorzinhos. Já o 365 dias extraordinários traz 365 preceitos do sr. Browne, o maravilhoso professor de Auggie. Nem preciso dizer que ele rendeu também um filme, que é lindo, emocionante, e fico feliz em dizer, extremamente fiel ao livro.

Por fim, queria dividir com vocês o que sem sombra de dúvidas mais me emocionou no livro e me fez chorar copiosamente no meio de uma oficina mecânica - nem tentem imaginar a cena. Os conflitos de Isabel e Nate, pais de Auggie, sobre mandar o filho para a escola ou não. Os receios dele sofrer, o desejo de vê-lo trilhando seu caminho como um menino comum, o medo de errar. Acho que só um coração de mãe/pai pode ter dimensão do que tudo isso significa, e o meu se conectou completamente com os deles...

25 outubro 2019

Voltei!

5 anos.
5 anos! Na quase totalidade desse tempo tive certeza absoluta que jamais voltaria a escrever aqui. Não tirei o blog do ar porque tenho um carinho imenso por tudo que deixei aqui registrado, e porque sei que seu conteúdo pode ajudar muita gente por aí. Mas a sensação quase sempre era que não havia sentido em voltar...

Posso dizer que foi porque a filha parecia cansada dos livros, porque eu comecei a trabalhar demais, porque outros interesses me sugaram, mas sendo sincera, sei que embora tudo isso seja verdade, foram dois os principais motivos. O primeiro eu até já falei em um post aqui, que é o meu perfeccionismo (ou seria autosabotagem?). O texto tinha que surgir com uma inspiração maravilhosa, e se ela não vinha do jeito que eu idealizava, era melhor nem começar. E se começava ficava parado em busca desse ou daquele detalhe, às vezes uma frase, às vezes uma foto ou imagem. Então, quando um certo desgaste veio (e o que nessa vida não passa por desgaste com o tempo?) e a inspiração rareou, eu simplesmente não conseguia mais escrever, paralisada nos meus ideais de "perfeição".

O segundo motivo é que a exposição me incomoda. Eu viro e reviro, mas a verdade é que a exposição das redes sociais é um desafio enorme para mim. Uma relação de amor e ódio, sabe? Tenho tanto a falar, e tanta vontade de falar, mas temo me expor. Não é a toa que esse blog foi por dois anos um blog anônimo. De certa forma os dois motivos se entrelaçam, e falam muito sobre a minha insegurança, meu medo de não ser boa o suficiente. Sim, eu já fiz muita terapia kkkkk

Mas o fato é que alguma coisa mudou nestes últimos cinco anos. E gosto de pensar que, além de coisas práticas como a terapia, a meditação e outros esforços de autoconhecimento, tem algo com um peso enorme nisso tudo: a idade! Pois é, estou mesmo ficando velha, e junto com os fios grisalhos que eu adoro desfilar, tem surgido a sensação de que não tenho mais muito tempo para medos e inseguranças. Mais que isso, a sensação de que estou no melhor momento da minha vida! Veja só: ainda tenho vitalidade e força física, acredito que estou no auge da minha clareza mental, e já acumulo os benefícios que só as experiências e vivências nos dão. Não tem depois, a melhor hora é agora!

Por isso voltei! E embora seja uma pena que esses cinco anos já não possam ser resgatados, sei que ainda tenho muito a dizer sobre livros infanto-juvenis. Sim, porque talvez a mudança mais significativa que tive nesse período é que agora sou mãe de adolescente! Geeente! Quase treze anos e nem consigo acreditar nisso. Morro de saudades das bochechinhas e da vozinha infantil, mas morro de amores com essa menina que já calça os meus sapatos e prepara o jantar, e tem questionamentos e posicionamentos que me enchem de orgulho. Sim, claro que tem as birras e as chatices também, e os momentos de só querer seguir a manada, que me enlouquecem, mas a verdade é que tem sido incrível descobrirmos como viver esses papéis de mãe e filha nesse mundo misterioso da adolescência.

E é isso. Voltei. Ainda não sei como será, se vou conseguir ficar, se vou fugir novamente, se trarei mais livros infantis ou adolescentes (quem sabe adultos?), se manterei o formato de sempre trazer alguma história com a minha cachinhos (agora ela é uma adolescente, né gente? tenho que ter muito mais cuidado com a sua privacidade). Certo é que manterei o mesmo papo franco e o mesmo cuidado com o que recomendo e comento, o mesmo amor pelas palavras, e o mesmo carinho com quem me ler. Já estou preparando o texto para um livro mega especial para nós, e logo ele estará publicado.

Obrigada por estar aqui comigo. Mesmo que você não tenha cachinhos, mesmo que você nem goste tanto assim de ler, vai ficando... os livros infanto-juvenis podem te surpreender!

Fonte: pixabay.com

31 dezembro 2014

Para terminar 2014...



2014 foi para mim, dos anos mais intensos e complexos. Daqueles que passam e parece que vivemos pelo menos uma década nele. Teve de tudo um pouco - ou muito. Riso, choro, desesperança, fé, garra. Bom, teoricamente todo ano é assim, mas em 2014 tudo foi muito forte. Não necessariamente ruim nem bom, mas intenso.

Foram muitos desafios enfrentados nesse ano, algumas batalhas perdidas, mas muitas vitórias também. Assim, termino o ano muito feliz, porque apesar dos percausos estou fortalecida, comigo mesma, com minha família e amigos, e com minha vida. Foi um ano de muitas descobertas e aprendizados!

E foi um ano em que o Cachinhos Leitores silenciou... Foram apenas quatro posts além desse último, nenhum no segundo semestre. Estava com a cabeça a mil, vivendo as emoções do ano, por isso me dei esse tempo. Ainda não sei o que esperar de 2015, por isso não farei promessas de final de ano. Por enquanto ele é um animal selvagem a espreitar e espiar, mas está tão perto que logo me dirá a que veio. Então, venho apenas desejar a todos um 2015 de esperança e saúde! Porque sem elas não dá. Ah, e se possível, de muitos livros!!!