08 fevereiro 2014

Ruth Rocha e o fim do Papai Noel


Almanaque Ruth Rocha
texto: Ruth Rocha
ilustrações: Alberto Linares, Cláudio Martins, Elisabeth Teixeira, Miadaira, Suppa, Teresa Berlinck, Walter Ono
editora: Salamandra

Quando Letícia ainda era uma bebezona, comecei a falar a ela sobre o bom velhinho que traz presentes às crianças no natal. Fiz isso muito mais por uma pressão social, devo admitir. Eu fui uma criança que nunca acreditou em papai noel, acho - se acreditei era tão pequena que não tenho a menor recordação disso. Meus pais sempre acharam uma bobagem fazer as crianças acreditarem em papai noel e coelhinho da páscoa. E bem no fundo, sempre achei isso também. Mas mãe é mesmo um bicho meio bobo e extremamente influenciável, que tem pavor absurdo de errar, e quando me tornei uma tive muitas e muitas influências ao meu redor, sempre dizendo que papai noel representa a fantasia e o sonho da infância, que dizer que papai noel não existe é negar à criança o direito à fantasia e ao sonho (oi?) e etc. Bom, quando ela ainda estava na produção de garatujas, comecei a perguntar o que queria de papai noel e ajudá-la a produzir as famosas cartinhas. Não falava muito, não fazia as habituais chantagens "papai noel só traz presente para bons meninos", mas todo ano tinha o presente do bom velhinho aqui em casa.

Quem me acompanha deve saber também que comecei, ainda no seu segundo natal, a comprar um livro para ela como um presente de papai e mamãe. Então, tinha o presente do papai noel, e o presente de papai e mamãe, sempre um livro. Em 2012, uns 40 dias antes do natal, a pequena me fez a pergunta bombástica: "Mamãe, papai noel existe?" Eu já andava incomodada com o fato dela acreditar nele, e pensava como seria o desfecho dessa história, mas a pergunta assim, nua e crua?!?! Respirei fundo um tive um lampejo de inspiração que me fez responder com outra pergunta: "filha, você acha que ele existe ou não existe?". A resposta dela foi um enfático "acho que existe" e só me restou emendar um "então pronto, filha! Se você acha que ele existe, é claro que ele existe". E tudo seguiu sua programação normal, com cartinha e presente deixado embaixo da árvore.

Rá, mas ano passado, mais ou menos na mesma época, a pergunta se repetiu. E a minha resposta-pergunta também. Mas a minha menina me devolveu um sonoro "Não! Acho que ele não existe, não". Ah! Ela, ainda em 2012, tinha visto o presente da prima, deixado por papai noel, na mala do carro da tia, na noite anterior. Juntou a isso a revelação de alguns coleguinhas da escola, e o quebra-cabeça estava formado. Aliviada, respondi "ah, filha, então não deve existir mesmo, né? Mas... quem então dá os presentes às crianças?" "O pai e a mãe, claro!". Ufa, última peça encaixada! E foi assim que a minha menina descobriu "sozinha" (ela se orgulha muito de ter sido sozinha) que papai noel não existe. Sem dramas, sem choros, sem velas. Ah, o fato de ter garantido a ela que nada mudaria nos seus natal ajudou bastante! kkkk

Ela ganhou o presente que pediu a papai e mamãe, e o livro que mamãe escolheu, como todos os anos. E o livro deste ano foi pra lá de especial. Muitos livros de Ruth Rocha já são nossos velhos conhecidos, e adoramos todos. Mas o Almanaque é diferente! Dividido pelos 12 meses do ano, ele traz histórias, curiosidades, anedotas, adivinhações, festas populares, brincadeiras e experiências. Uma delícia. Ainda mais nessa fase da filha, que adora inventar novas brincadeiras. Para as férias pode ser um ótimo companheiro. Recomendo muito, muito mesmo, principalmente por ser um livro para se usar, literalmente, o ano todo, e por muitos anos.



PS: em dezembro vi algumas postagens em redes sociais criticando a pressão CONTRA a "magia do natal" e a fantasia do papai noel. Engraçado observar isso, porque sempre senti a pressão contrária, a favor da tal magia e do papai noel, como se não "jogar pirlimpimpim" sobre a festa seria quase um crime contra a infância - veja bem, não falo da festa, que eu adoro, mas de fantasia-la, como o mercado tanto gosta. Por isso pensei em mostrar o meu ponto de vista, e dizer que o melhor é que cada família decida como viver suas festas, de preferência bem conscientes do que é válido ou não à ela.