Valente
Disney-Pixar
Hoje não trago um livro, mas trago um
filme e um conto. Trago também minhas reflexões sobre ser mulher e ser mãe,
sobre ser criança e ser filha nos tempos de hoje, onde as meninas vivem embaladas pelo encanto das princesas
Disney. Assisti Valente, filme que estava louca para assistir desde que vi seu
trailer pela primeira vez. Putz, uma princesa com esvoaçantes e cacheados
cabelos vermelhos, que luta pelo direito de não aceitar que outros escolham o
seu destino. Fiquei empolgadíssima.
Mas o filme me surpreendeu, e foi além da
previsível rebeldia contra as tradições sociais, trazendo além dos conflitos da
princesa e filha Merida, os conflitos da rainha e mãe Elinor. E nos retratos
destas duas mulheres, mãe e filha, é impossível não se identificar, com uma,
outra, ou ambas (como aconteceu comigo). A dificuldade de diálogo, as
divergências de interesses que nos distanciam, o autismo social que não nos
deixa perceber o que o outro deseja e precisa, a ideia de que os problemas se
resolvem se o outro mudar... Eu, que não sou muito fã das princesas Disney, mas
confiro tudo por ser aficionada por filmes de animação, tenho que tirar o
chapéu para essa produção da Disney-Pixar, por seu roteiro inteligente, cheio
de sutilezas e nuances, carregado de verdades muitas vezes ocultas.
Não vou aprofundar na questão das
princesas Disney porque outros já fizeram isso com bem mais propriedade. Mas
queria refletir um pouco sobre como nossas meninas estão imersas num mundo onde
as referências são princesas indefesas e obedientes. Das camisetas às mochilas,
das festas de aniversários às fantasias para brincadeiras de faz de conta, as
referências são as princesas Disney, e as mais clássicas e mais submissas são também
as mais badaladas, principalmente Branca de Neve, Cinderela e Aurora. Depois
destas, as princesas têm se mostrado ora questionadoras, ora desafiadoras, ora
reflexivas, buscando impor mais seu ponto de vista e batalhar pelo que
acreditam. Entretanto, todas inseridas em uma realidade machista onde a solução
vem da ação de um homem, seja defendendo-as, seja consentindo com elas. Mas
Merida vai além, inclusive na absoluta “falta de realeza”. Seu conflito é com
outra mulher, tão diferente e tão parecida com ela. E a solução não vem da
defesa ou do consentimento de um homem, mas da união dessas duas forças
femininas.
Pesquisei um pouco na net sobre o assunto,
e além de alguns textos e comentários bastante interessantes (aqui, aqui e aqui), cheguei a esse
sensacional conto de Ruth Rocha. De uma princesa que não quer esperar seu
destino bater a porta, mas quer correr o mundo atrás dele. Porque só os meninos
podem fazer isso?
Não vou copiar ele aqui porque fica muito grande, mas não deixe de ler:
Minha menina depois do filme me disse que
achou Merida muito desobediente, que nem parecia uma princesa de verdade... Perguntei
se ela preferia ser Merida ou Cinderela, e ela nem pestanejou ao responder o
nome da princesa que nunca batalhou por seus sonhos, embora os tivesse, e foi
resgatada por um príncipe que se apaixonou por ela baseado na única coisa que tivera
contato: sua beleza física. Levei um susto a princípio. Afinal, o que estamos
fazendo com nossas meninas? Mas minha pequena só tem 5 anos, e por mais que eu
não estimule, sofre muita influência das histórias das doces e angelicais
princesas Disney. Sou uma defensora das histórias clássicas e sei o quanto é importante que nossas crianças tenham acesso ao mundo de fantasia que elas nos reportam, mas não nego que torço que daqui uns anos nenhuma menina de sua idade duvide que ser
perfeita e esperar quieta um príncipe salvador é algo chato demais para ser desejado.
Bom, segundos depois ela pegou papel e lápis e se desenhou com seus cachos muito soltos, como a desobediente Merida. Sorri por dentro, mas meu lado Elinor tremeu. Ahhh, quando ela descobrir o poder que tem...
Bom, segundos depois ela pegou papel e lápis e se desenhou com seus cachos muito soltos, como a desobediente Merida. Sorri por dentro, mas meu lado Elinor tremeu. Ahhh, quando ela descobrir o poder que tem...