Uma girafa e tanto
texto e ilustrações: Shel Silverstein
editora: Cosac Naify
O fim do ano vem chegando (e o fim do mundo também...) e entre confraternizações, decorações de natal, engarrafamentos e compras de presentes, surge um clima de balanço e de planejamento no ar. O que foi bom no ano que finda? O que não foi bom servirá de lição ou simplesmente vamos preferir esquecer? O que esperamos de 2013? Quais nossas metas, objetivos? Como planejamos alcançá-los? Nunca consigo cumprir a contento minha listinha de ano novo, mas sempre a faço na minha cabeça. Gosto do cheirinho de ano novo, de agenda em branco, de página esperando ser escrita.
Este ano, fazendo meu balanço e minha listinha mental, me dei conta do quanto a vida anda acelerada. Entramos de vez na era digital, quando todos precisam estar o tempo todo conectados. Estamos criando uma tal galerinha Z de dedinhos rápidos e ávidos por novidades. Nunca antes as pessoas se relacionaram com tantas outras pessoas, e nunca com tanta superficialidade. Nas redes sociais e na TV, todos querem seus 15 minutinhos de fama, todos têm algo a dizer, todos têm pressa para dizer... e para esquecer. É a era do descartável, da fama meteórica, das relações meteóricas, do consumo meteórico.
Lembro dos natais da minha infância, quando as famílias (pelo menos as que eu tinha contato) enfeitavam suas casas com uma árvore de natal, um presépio (as religiosas), uma toalha de mesa natalina e no máximo uma guirlanda na porta. E toda decoração durava vários natais, repetindo-se ano após ano. A lista de presentes geralmente tinha o tamanho do número de membros da casa multiplicado por 2 - por conta dos presentes de amigo secreto. Hoje, olho ao redor e vejo que as coisas mudaram bastantes, na nossa sociedade e no natal, e basta uma volta no shopping para confirmar isso. Em muitas casas, a decoração de natal precisa estar presente em todos os cômodos, e valha-me Deus se alguém passar na rua e não vir sua varanda com luzinhas piscando. As decorações não se repetem de uma ano para o outro, pelo menos não na íntegra... As listas de presentes são gigantescas, todos precisam ser presenteados para que se sintam amados - repete explicita ou implicitamente a publicidade do shopping center, da loja de cosmético e até da marca de bebidas. E aí vale quase tudo, não importando muito se será útil, adequado ou bem recebido. A variedade de opções é impressionante, para todos os bolsos e calendários. E na maioria das vezes o ano novo começa com a decisão do que fazer com os presentes ganhos no natal - tarefa nem sempre fácil.
E nesta alucinante "vida moderna" uma pergunta insisti em aparecer: Afinal, de quê e de quanto precisamos? Tenho me feito essa pergunta muitas vezes nos últimos anos. O tamanho do meu "apertamento" me obrigou a este questionamento quando percebi que precisava fazer limpezas periódicas das coisas que possuímos em casa - ou teríamos que sair de casa para acomodar tudo. Pelo menos duas vezes ao ano temos separado montes de roupas, sapatos, brinquedos, bolsas, itens de cozinha e etc para doação... porque já não nos servem mais, porque compramos um novo ou simplesmente porque enjoamos. Outra montanha de papéis vai para a reciclagem (alguém sabe como papel prolifera???), além das tranqueiras que terminam mesmo no lixo. A regra é que os armários, prateleiras e cômodos não podem ficar entulhados. Tudo precisa estar visível e a mão. Porque se está escondido e de difícil acesso... acaba não sendo usado, às vezes sequer lembrado. E aí, na contramão do que nos dizem diariamente as campanhas publicitárias, começamos a investir nos Rs: repensar, reduzir, reciclar, reaproveitar, recusar... ultimamente tem sido o repensar e o recusar os mais usados aqui em casa - antes de comprar qualquer coisa: Repensar, e se for o caso: Recusar.
Um movimento lento, mas que tem causado uma revolução na vida da minha família. É interessante perceber, por exemplo, que temos ido ao shopping com muito menos frequência do que antes, inclusive quando o objetivo não é comprar, preferindo restaurantes e cinemas "de rua". Com cada vez menos frequência tenho comprado "por impulso" e o fato de não zapear mais pelas lojas para "conhecer as novidades" tem contribuído muito para isso. Fiz boa parte das minhas compras de natal pela internet, com uma listinha muito bem definida nas mãos - como os presentes são invariavelmente livros e os presenteados crianças, já acesso os sites sabendo exatamente o quê vou comprar. Parece muito pouco, mas as mudanças são visíveis na quantidade de tranqueiras que conseguimos reduzir em casa.
Um estilo de vida mais minimalista realmente tem me atraído, e passar isso para minha filha tem sido um desejo constante. Por isso foi maravilhoso descobrir, há alguns meses, Uma Girafa e Tanto, do genial Shel Silverstein. A história, pra lá de nonsense, conta como um menino começa a alterar sua girafa para transformá-la em uma girafa e tanto! Chapéu com rato, rosa no nariz, uma cadeira como pente, e mais um monte de maluquices, que no final... só conseguem descaracterizar a pobre girafa, que virou... sei lá o quê. Mas eis que, assim, carregando um monte de apetrechos, a girafa acaba por cair no buraco do tatu, e é então que torna-se possível perceber que, na verdade, ela não precisa de nada daquilo. E se o menino começasse a procurar para aqueles objetos usos melhores que os usos esdrúxulos dados até então? E se a cadeira for dada a um urso, a rosa a uma pessoa amada, e o rato simplesmente for embora com o chapéu? Aí, meus caros, esse menino terá o que sempre teve e desejou: uma girafa de verdade.
O livro é todo em preto e branco, da capa às folhas internas, ilustrado pelo traço inconfundível de Shel Silverstein, o que, convenhamos, não o torna dos mais atraentes. Mas não se engane, ele é surpreendente, e é uma ótima e divertida forma de conversar com as crianças sobre o que é essencial e o que é supérfluo, o que é consumo e o que é consumismo. Não quero ser a dona da verdade, longe de mim, mas devo confessar para vocês: verdadeiramente entender que é possível viver com menos e ser mais feliz tem trazido muito mais felicidade ao meu lar.
Este ano, fazendo meu balanço e minha listinha mental, me dei conta do quanto a vida anda acelerada. Entramos de vez na era digital, quando todos precisam estar o tempo todo conectados. Estamos criando uma tal galerinha Z de dedinhos rápidos e ávidos por novidades. Nunca antes as pessoas se relacionaram com tantas outras pessoas, e nunca com tanta superficialidade. Nas redes sociais e na TV, todos querem seus 15 minutinhos de fama, todos têm algo a dizer, todos têm pressa para dizer... e para esquecer. É a era do descartável, da fama meteórica, das relações meteóricas, do consumo meteórico.
Lembro dos natais da minha infância, quando as famílias (pelo menos as que eu tinha contato) enfeitavam suas casas com uma árvore de natal, um presépio (as religiosas), uma toalha de mesa natalina e no máximo uma guirlanda na porta. E toda decoração durava vários natais, repetindo-se ano após ano. A lista de presentes geralmente tinha o tamanho do número de membros da casa multiplicado por 2 - por conta dos presentes de amigo secreto. Hoje, olho ao redor e vejo que as coisas mudaram bastantes, na nossa sociedade e no natal, e basta uma volta no shopping para confirmar isso. Em muitas casas, a decoração de natal precisa estar presente em todos os cômodos, e valha-me Deus se alguém passar na rua e não vir sua varanda com luzinhas piscando. As decorações não se repetem de uma ano para o outro, pelo menos não na íntegra... As listas de presentes são gigantescas, todos precisam ser presenteados para que se sintam amados - repete explicita ou implicitamente a publicidade do shopping center, da loja de cosmético e até da marca de bebidas. E aí vale quase tudo, não importando muito se será útil, adequado ou bem recebido. A variedade de opções é impressionante, para todos os bolsos e calendários. E na maioria das vezes o ano novo começa com a decisão do que fazer com os presentes ganhos no natal - tarefa nem sempre fácil.
E nesta alucinante "vida moderna" uma pergunta insisti em aparecer: Afinal, de quê e de quanto precisamos? Tenho me feito essa pergunta muitas vezes nos últimos anos. O tamanho do meu "apertamento" me obrigou a este questionamento quando percebi que precisava fazer limpezas periódicas das coisas que possuímos em casa - ou teríamos que sair de casa para acomodar tudo. Pelo menos duas vezes ao ano temos separado montes de roupas, sapatos, brinquedos, bolsas, itens de cozinha e etc para doação... porque já não nos servem mais, porque compramos um novo ou simplesmente porque enjoamos. Outra montanha de papéis vai para a reciclagem (alguém sabe como papel prolifera???), além das tranqueiras que terminam mesmo no lixo. A regra é que os armários, prateleiras e cômodos não podem ficar entulhados. Tudo precisa estar visível e a mão. Porque se está escondido e de difícil acesso... acaba não sendo usado, às vezes sequer lembrado. E aí, na contramão do que nos dizem diariamente as campanhas publicitárias, começamos a investir nos Rs: repensar, reduzir, reciclar, reaproveitar, recusar... ultimamente tem sido o repensar e o recusar os mais usados aqui em casa - antes de comprar qualquer coisa: Repensar, e se for o caso: Recusar.
Um movimento lento, mas que tem causado uma revolução na vida da minha família. É interessante perceber, por exemplo, que temos ido ao shopping com muito menos frequência do que antes, inclusive quando o objetivo não é comprar, preferindo restaurantes e cinemas "de rua". Com cada vez menos frequência tenho comprado "por impulso" e o fato de não zapear mais pelas lojas para "conhecer as novidades" tem contribuído muito para isso. Fiz boa parte das minhas compras de natal pela internet, com uma listinha muito bem definida nas mãos - como os presentes são invariavelmente livros e os presenteados crianças, já acesso os sites sabendo exatamente o quê vou comprar. Parece muito pouco, mas as mudanças são visíveis na quantidade de tranqueiras que conseguimos reduzir em casa.
Um estilo de vida mais minimalista realmente tem me atraído, e passar isso para minha filha tem sido um desejo constante. Por isso foi maravilhoso descobrir, há alguns meses, Uma Girafa e Tanto, do genial Shel Silverstein. A história, pra lá de nonsense, conta como um menino começa a alterar sua girafa para transformá-la em uma girafa e tanto! Chapéu com rato, rosa no nariz, uma cadeira como pente, e mais um monte de maluquices, que no final... só conseguem descaracterizar a pobre girafa, que virou... sei lá o quê. Mas eis que, assim, carregando um monte de apetrechos, a girafa acaba por cair no buraco do tatu, e é então que torna-se possível perceber que, na verdade, ela não precisa de nada daquilo. E se o menino começasse a procurar para aqueles objetos usos melhores que os usos esdrúxulos dados até então? E se a cadeira for dada a um urso, a rosa a uma pessoa amada, e o rato simplesmente for embora com o chapéu? Aí, meus caros, esse menino terá o que sempre teve e desejou: uma girafa de verdade.
O livro é todo em preto e branco, da capa às folhas internas, ilustrado pelo traço inconfundível de Shel Silverstein, o que, convenhamos, não o torna dos mais atraentes. Mas não se engane, ele é surpreendente, e é uma ótima e divertida forma de conversar com as crianças sobre o que é essencial e o que é supérfluo, o que é consumo e o que é consumismo. Não quero ser a dona da verdade, longe de mim, mas devo confessar para vocês: verdadeiramente entender que é possível viver com menos e ser mais feliz tem trazido muito mais felicidade ao meu lar.