Em abril do ano passado, escrevi um post sobre um livro que adoro: Ceci tem pipi? Ele é o primeiro de uma série, e na época planejava escrever logo na sequência sobre os outros dois. Bom, nem preciso dizer que acabei não escrevendo... E nesse tempo, o quarto livro foi lançado no Brasil, e recentemente consegui comprá-lo. E aí que me deu uma vontade enorme de escrever sobre eles, inclusive sobre aquele primeiro, que já escrevi. Foi assim que nasceram esses quatro posts, que começo a publicar hoje, sobre os títulos da deliciosa série do francês Thierry Lenain (bom, os títulos já traduzidos e lançados no Brasil).
Ceci tem pipi?
texto: Thierry Lenain
ilustrações: Delphine Durand
tradução: Heloisa Jahn
editora: Companhia das Letrinhas
Como o próprio Thierry afirma, ele é um escritor que escreve histórias que defendem as meninas. Na verdade, suas histórias abordam questões da sexualidade para as crianças, falando para elas, na sua linguagem, e buscam desconstruir algumas ideias machista e sexista. Mas esqueça se te veio à mente "livros endereçados", desses que tem como objetivo principal ensinar algo ou passar uma mensagem, e só por acaso têm uma história condutora. As histórias de Ceci são muito boas, sensacionais, eu diria. E o que eu mais gosto nelas é que Thierry não caiu nas armadilhas mais comuns, como falar sobre sexo para crianças usando metáforas bobinhas ou uma porção de termos técnicos, ou ainda abordando o sexismo com um discurso moralista. Suas histórias são diretas, claras, e na linguagem do pequeno leitor - tratando a criança com respeito - e como eu gosto disso...
Pela editora francesa, já são oito* os títulos da série da dupla Zazie e Max. Aqui no Brasil, Zazie virou Ceci, e já estão lançados os quatro primeiros títulos. E é nesse primeiro livro que a duplinha se conhece, quando Ceci vai estudar na sala de Max, e causa uma verdadeira revolução na vida do colega. Tudo isso porque a chegada de Ceci faz pela primeira vez Max repensar algo que já estava muito bem formatado em sua cabeça: no mundo existem as pessoas Com-pipi e as Sem-pipi, e é claro que as Com-pipi são mais fortes - elas têm pipi, não é mesmo? E nem foi Max quem inventou isso, sempre foi assim, desde a época dos mamutes. Por isso, Max nem liga quando a professora apresenta Ceci - ela é uma Sem-pipi!
Pela editora francesa, já são oito* os títulos da série da dupla Zazie e Max. Aqui no Brasil, Zazie virou Ceci, e já estão lançados os quatro primeiros títulos. E é nesse primeiro livro que a duplinha se conhece, quando Ceci vai estudar na sala de Max, e causa uma verdadeira revolução na vida do colega. Tudo isso porque a chegada de Ceci faz pela primeira vez Max repensar algo que já estava muito bem formatado em sua cabeça: no mundo existem as pessoas Com-pipi e as Sem-pipi, e é claro que as Com-pipi são mais fortes - elas têm pipi, não é mesmo? E nem foi Max quem inventou isso, sempre foi assim, desde a época dos mamutes. Por isso, Max nem liga quando a professora apresenta Ceci - ela é uma Sem-pipi!
O mundo para Max antes de Ceci.
Ah, mas Ceci não é menina que se possa ignorar! Ela desenha mamutes ao invés de florzinhas fofinhas, joga futebol, não tem medo de subir em árvores e sempre vence nas lutas. Ceci simplesmente não cabia no formato arrumadinho de Com-pipi e Sem-pipi que norteava a cabeça de Max. Tinha alguma coisa diferente naquela garota... será que Ceci é uma Sem-pipi que tem pipi? Mas isso seria trapaça, não? E essa dúvida não sai da cabeça de Max...
Ceci e Max devem ter uns 5 anos, e é mesmo mais ou menos nessa fase que as crianças começam a realmente incorporar que meninos e meninas precisam ser diferentes, e não apenas por terem ou não pipi. Menino gosta de bola, menina gosta de boneca. Menina não pode gostar de bola, menino não pode gostar de boneca. E claro, meninos e meninas não devem se gostar... pffff... que chatice.
Mas a sacada do livro é sensacional! Nunca tinha visto um livro infantil tratar a questão do sexismo na infância de forma tão direta e acessível à criança! Ele traz a ideia freudiana de castração e inferioridade das meninas de uma forma simples e sem rodeios. E ao final da história, quando finalmente Max reconstrói sua ideia das diferenças entre meninos e meninas - já que a primeira foi detonada por Ceci - percebe que, na verdade, existem os Com-pipi e as Com-perereca! Sim, somos diferentes... mas não tem nada faltando nas meninas!
* além de um exemplar com cinco histórias, as quatro primeiras, já lançadas no Brasil, e uma inédita.
Mas a sacada do livro é sensacional! Nunca tinha visto um livro infantil tratar a questão do sexismo na infância de forma tão direta e acessível à criança! Ele traz a ideia freudiana de castração e inferioridade das meninas de uma forma simples e sem rodeios. E ao final da história, quando finalmente Max reconstrói sua ideia das diferenças entre meninos e meninas - já que a primeira foi detonada por Ceci - percebe que, na verdade, existem os Com-pipi e as Com-perereca! Sim, somos diferentes... mas não tem nada faltando nas meninas!
* além de um exemplar com cinco histórias, as quatro primeiras, já lançadas no Brasil, e uma inédita.
Oi Mirtes!
ResponderExcluirAchei bastante interessante maneira de abordagem que o livro traz. Não conhecia. Tenho sobrinhos e sobrinhas ainda pequenos; achei excelente a dica, futuramente será um presente!
Li seu comentário lá no blog da Luciana, o Gato de Sofá. Anotei a dica do filme, aliás já dei uma olhada no trailer. São assuntos delicados e realmente necessários. Um beijo
Ana, os livros da Ceci são ótimos, super divertidos e questionadores. E temos mesmo que colocar esses pequenos para questionar os padrões dessa sociedade machista!
ExcluirQuanto ao filme, assim como o livro, é excelente. Lembro que fui assistir com uma amiga e nossas filhas, e ao sair concluímos que é um filme de arte para crianças rsrs Certamente elas não captaram tudo, mas se divertiram e a minha até hoje lembra dele, principalmente da cena "da velha". Havia uma expectativa que entrasse no circuito comercial por agora, mas não vi movimentação :(
É uma história forte para mim, que perdi minha mãe tão cedo. Um dia, se tomar coragem, escrevo sobre ele aqui.
bjs