04 abril 2013

A arte de ser diferente - ou os desafios de ser uma menina esquisita!

Lilás
textos: Mary E. Whitcomb
ilustrações: Tara Calahan King
editora: Cosac Naify

Quando ainda não era mãe, sonhava e imaginava o tipo de mãe que eu seria. Mentira, naquela época eu achava que mãe era tudo meio igual mesmo, e só pensava que seria assim, uma "mãe padrão". Bom, não estava de todo errada, mãe é tudo meio igual mesmo, mas logo descobri que algumas coisas nos diferenciam. E logo depois descobri que não, não seria uma "mãe padrão". Não é nada demais, nada que diga que sou uma mãe melhor ou pior do que qualquer outra. É só que eu não consigo parar de pensar, de analisar, de criticar, de questionar. As vezes me vejo como a Mafalda da maternidade.

Porque, como em tudo nesse mundo de meodeus, na maternidade também há conformados com a ordem social, reproduzindo e reproduzindo o quadro que conhecemos - e convenhamos, o que pode ser mais eficiente para reproduzir uma ordem social do que a maternidade? E há os inconformados, ou pelo menos os não conformados com tudo, que questionam, buscam, discutem e têm a coragem de tentar fazer diferente. E há também os filhos dos inconformados (ou pelos menos não conformados com tudo), que... são diferentes. Ou esquisitos, como queira.

Essa não é a única classe de diferentes, claro. Algumas crianças são diferentes simplesmente porque são assim, mesmo tendo "pais padrão". Mas os filhos dos inconformados (ou pelo menos...) não têm muita escolha, mais cedo ou mais tarde alguma "esquisitice" sua irá saltar aos olhos. E é claro que como mãe inconformada (você já sabe o resto...) essas questões me preocupam. Porque, diferente de boa parte dos seus coleguinhas, minha filha não se entupiu de chocolate na páscoa, não usa maquiagem, nem esmalte, nem salto alto, não frequenta fast foods, não tem festas padronizadas, não assiste programas de qualidade duvidosa na TV, nem come na cantina (de qualidade duvidosa) da escola. E é claro que não seguir a manada tem seus ônus e seus bônus.

Ser diferente na infância pode não ser das experiências mais legais, e geralmente o que as crianças querem é "sumir na multidão". Por outro lado, ter acesso a oportunidades exclusivas pode ser das experiências mais legais. Estava pensando sobre isso recentemente, num momento em que estou questionando algumas questões da nova escola e às vezes recebendo olhares de A mãe diferente (ou esquisita, como queira), e minha filha tem manifestado a necessidade de, vez ou outra, simplesmente seguir a manada. E foi então que Lilás veio na mochila da filhota, direto da ciranda da biblioteca. Embora sua capa me seja absolutamente conhecida, nunca o tinha lido, e ele foi uma grata surpresa.

Porque Lilás é uma menina diferente, que presenteia a professora com coisas feitas por ela mesma (ao invés de compradas), come cenouras e outros legumes no lanche e não usa roupa nova simplesmente porque é o primeiro dia de aula. Lilás tem um nome esquisito, coleciona pedras e no seu aniversário, ao invés de contratar mágicos e palhaços, seus pais transformaram seu quarto num castelo medieval! No começo, nenhum dos seus colegas queria ser visto com uma pessoa tão diferente. Mas com o tempo, descobriram que ser diferentes pode ser muito legal, e no último dia de aula, a professora não ganhou nenhum presente comprado. Porque Lilás é diferente. Mas talvez ela não seja TÃO diferente assim.

Confesso, a identificação foi imediata. Acho que Lilás é filha de inconformados, e ela tem se saído muito bem como uma menina diferente. Assim como minha menina, que tem mais livros que brinquedos, não come industrializados no lanche e curte mais inventar arte com uma caixa de leite que brincar com barbies. Mas... tem feito sucesso na escola levando seus livros para serem lidos na sala, sempre recebe pedidos de um pedacinho dos muffins salgados que mamãe faz para ela e adora dividir com os colegas as artes malucas - e nem sempre esteticamente "aceitáveis" - que fazemos juntas.

Além disso, tem descoberto que temos todos nossas esquisitices, e que talvez ser diferente seja algo que nos assemelha mais que nos distancia. Lilás acalmou meu coração, e me lembrou que valorizar o que nos distingue é uma lição importante a ser aprendida na infância.

Um comentário:

  1. Foi paixão a primeira vista por aqui também Lilás!
    Encontramos o livro num passeio a uma livraria. Saímos com ele.
    Foi levado para a ciranda na escola. a professora encantou-se, outras crianças o compraram.
    sim é difícil ser na contramão do todo mundo, mas por aqui seguimos também assim levando pão com rúcula para o lanche e ouvindo "que nojo, como você come isto?".
    Beijo

    http://ladodeforadocoracao.blogspot.com

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