03 novembro 2011

Ser eu mesma


Quando eu crescer
texto: Anne Faundez
ilustrações: Katherine Lucas
tradução: Silvio Antunha
Editora: Ciranda Cultural

Trago hoje o livro que comprei na bienal. Estava lá, entre outros, a um preço tentador. Folheei um, outro e mais outro, e este me chamou a atenção, por trazer a tona algo que eu gostaria muito que minha filha nunca esquecesse: a importância de sermos nós mesmos. A personagem do livro faz uma série de questionamentos, sobre como as coisas serão quando ela crescer. O que serei? O que vou fazer? Como serei? O que vou comer? Quem viverá comigo? Que roupa vou vestir?  As respostas para as perguntas fazem a imaginação do leitor voar, como ser um pássaro no ar, voar para Marte, passear de rinoceronte ou ser imensa como um hipopótamo, mas foi o final que me fisgou: "quando eu crescer, realmente pouco importa como serei... desde que eu seja eu mesma!" Pronto, botei ele debaixo do braço e o trouxe para casa.

Quase sempre na intuição, é verdade, tento passar para a minha filha a importância de sermos quem somos, de valorizarmos nossas singularidades e autenticidade. Acho esse um valor verdadeiramente importante para ser passado para um filho. A pequena diz que quer ser professora, e me faz lembrar demais eu mesma com sua idade, quando dizia também que queria ser professora "de crianças". Mas já quis ser policial (isso com 2 aninhos), médica de bebê e cozinheira. O que mais quero é que ela entenda que poderá ser o que desejar, mas nunca deixará de ser quem ela é. Sei que haverá uma época aborrecente em que ser "apenas" do jeito que ela é parecerá muito pouco e bobo, e uma mãe dizendo que assim, "apenas", ela será uma das pessoas mais interessantes que há, não ajudará em nada. Por isso aproveito o agora para dizer-lhe isso, numa época em que ela ainda acredita e considera o que digo sobre ela rsrs Li o livro para a pequena e ao final fiz a pergunta clássica "e então, o que você vai ser quando crescer?" e ela respondeu "eu mesma"...

A bienal do livro

Até o dia 06 de novembro acontece em Salvador a X Bienal do Livro da Bahia. Com base nas versões anteriores do evento, fui ao Centro de Convenções com expectativas baixas, e infelizmente, confirmei-as.

Olhei a programação com atencedência, e fiquei a princípio sem entender direito a programação infantil. É que o público infantil tem um espaço específico denominado Ciranda de Livros, mas a sua programação resume-se ao espetáculo Colcha de Retalhos, de A Outra Companhia de Teatro. Entendam o que vou falar, o espetáculo é muito bom, aqui em casa todos adoramos. São três contos apresentados com teatro e música, e só por ele já valeu a nossa ida a bienal. Mas veja bem, a programação infantil oficial do evento resume-se a esse espetáculo, que se repete quatro ou cinco vezes todos os dias do evento. Não, não há para o público infantil contação de histórias, lançamento de livros, sessão de autógrafos, recitais, ou qualquer outra atividade de interação das crianças com os livros e seus autores, pelo menos programadas e divulgados pela organização do evento. Digo isso porque compramos um livro autografado pelo autor simplesmente porque ele se anunciou como tal quando nos viu folheando a sua obra. Hoje também vi Antonio Cedraz, criador da Turma do Xaxado, autografando, mas não vi isso divulgado em nenhum lugar. Olhando o site pela quarta ou quinta vez (sim, sou psicótica e reconfiro tudo) descobri que na chamada Programação dos Expositores há uma parte dedicada exclusivamente a programação infantil com algumas poucas contações de história e sessões de autógrafos (mas nenhuma das que vi lá). Entretanto, além de não ser uma informação fácil de se localizar no site (ou sou eu que sou muito burra?!?!?!), as únicas informações que constam lá são o horário e o estande do evento. Não, não diz qual o livro a ser contado nem qual será o contador, muito menos qual o livro que será lançado e quem é o autor!!!

Agora diz, qual seria o motivo para alguém levar suas crianças mais de uma vez a essa bienal? Fui ver a programação na intensão de escolher o(s) dia(s) mais interessante(s) para minha pequena. Haha!!! Ah, as entradas no início estavam custando 8 reais inteira e 4 reais meia, com estacionamento de 8 reais - em SP, no Ceará e em Porto Alegre (ah, como eu queria estar em POA agora) são gratuitas. Ha!!! A pergunta fica ainda mais sem motivo, né? Agora todos pagam 4 reais e as crianças até 12 anos não pagam. Fico matutando o que os levou a essa "promoção".

Sinto vontade de escrever que este evento não foi pensado para o público infantil, mas definitivamente não posso dizer isso. Não com a quantidade de livros infantis servindo de isca por todos os cantos e estandes. Livros para colorir por R$ 0,50, pacotinho com cinco livros, cada um com duas histórias, por R$ 3,00 (esse minha filha comprou com as moedas de sua carteira, apesar dos meus argumentos contrários...), livros cartonados por R$ 5,00, aqueles livros enormes e fininhos por menos de R$ 10,00 e por aí ia... E claro, a quantidade de crianças por todo o lado. Ah, esse foi um evento pensado para crianças sim. Mas, desculpem minha sinceridade, elas não foram pensadas com o respeito que merecem.

Antes que alguém grite daí, claro que haviam livros de excelente qualidade, embora fosse uma minoria. Em relação a eles tenho duas coisas a dizer: além de raros estavam "mau distribuídos", e seus preços não estavam muito diferentes das livrarias. O estande da LDM estava de babar, mas não encontrei um único exemplar com valor abaixo ou mesmo igual ao dos que vejo nas maiores livrarias (dos que me recordo o preço, claro). Também gostei dos estandes da Paulinas, da Selecta e da Paulus, com algumas promoções. As melhores promoções que vi foram no da Saraiva, embora não tenha me interessado por nada. É claro que não vou dizer que o evento não vale a pena para as crianças. Levei minha filha, mesmo ciente da programação, mesmo ela tendo sido fisgada pelo colorido de um pacotinho vagabundo que condensa dez clássicos infantis em 40 páginas (isso mesmo, quatro para cada clássico - quatro versos, viu?). As crianças estavam lá entre os livros, pegando, sentindo, lendo. Os pais e responsáveis estavam lá com elas, interagindo nesse momento. E isso é bom, sempre. Mas temos mesmo que nos contentar com tão pouco? Temos mesmo que pensar "oh, somos uma cidade tão pobre de opções culturais para as crianças, devemos apenas agradecer por esta oportunidade". Não sei, creio que não.

Desculpem o desabafo, é muito sincero. É sentido. Não esperava muita coisa, mas fiquei triste ao constatar que nossa realidade é esta mesmo. Nossa cidade é linda, grande, diversa, múltipla, rica. Nosso povo tem sede de cultura - peguei uma fila quilométrica, debaixo de chuva, para entrar na bienal hoje. Mas as coisas aqui ainda patinam. Apesar disso tenho esperança. Se não tivesse, simplesmente calava.

PS.: falei da programação e dos livros infantis porque esse é o mundo desse blog. A programação adulta foi bem mais interessante, com os espaços Livro Encenado e a Praça de Cordel e Poesia, além dos debates no Café Literário (assisti a um sobre literatura infantil "A infância é o meu mundo", que pretendo comentar aqui no futuro). Quanto aos livros, tinha de tudo. Desde uma criatura gritando no corredor "qualquer livro e revista a 3 reais" até obras bem interessantes a realmente baixos preços. Sem dúvidas os adultos foram tratados com bem mais respeito.