28 junho 2011

Uma história para ouvir, assistir, ler... e apresentar

Pedro e o lobo
texto: Heloísa Prieto (adaptado da obra de Sergei Prokofiev)
ilustrações: Gusti A. Rosemffet
editora: Ática

O maestro e compositor russo Sergei Prokofiev escreveu Pedro e o lobo em 1936, ou seja, há 75 anos. Entretanto, é incrível como essa história infantil continua atual e atraindo a atenção das nossas crianças século XXI. Não é para menos, a história tem mesmo vários elementos para aguçar o interesse dos pequenos: uma criança corajosa, a desobediência de uma ordem adulta, um lobo malvado, amigos animais, uma floresta misteriosa, caçadores, e um final que possibilita várias interpretações. Mas não é só isso, a história surgiu como uma sinfonia, onde cada personagem ganhou um instrumento musical. Assim, o passarinho é interpretado pela flauta, o lobo pelas trompas, o pato pelo oboé, e por aí vai.

Tive meu primeiro contato com a história através do Pequenópolis (algum soteropolitano ainda não conhece esse blog, onde Mariana Carneiro nos informa as melhores programações infantis da Soterópolis?). O post anunciava o espetáculo Pedro e o Lobo que seria apresentado no Teatro Castro Alves, pelo Balé do Teatro Castro Alves e a Orquestra Sinfônica da Bahia. Nos dias do espetáculo estaríamos com visitas em casa, e uma programação turística apertada, mas eu sabia que estava diante de algo realmente imperdível – TCA + BTCA + OSBA era uma combinação especial demais! Foi também no blog de Mariana que peguei o link para baixar em MP3 o cd Pedro e o lobo que Rita Lee e a Orquestra Nova Sinfonieta gravaram em 1989. O CD é lindo (a Rita - sou fãzona dela - narra a história enquanto a orquestra toca a sinfonia), mas não encontrei mais para comprar. Se quiser baixar clique Aqui.

Empolgada com a oportunidade de apresentar uma obra tão especial a minha filha, comprei os ingressos, baixei o cd, e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que a pequena já conhecia toda a história. Sim, inclusive me contando detalhes das cenas. É que sua professora de música havia levado o cd de Rita Lee para as crianças da escola ouvirem há algumas semanas. Vocês imaginam como ela foi animada ao teatro? Ficamos no centro da terceira fileira da sala principal do TCA, com a orquestra e o maestro a nossa frente, e confirmei que imperdível era realmente a palavra a ser usada - pude ir mostrando (e aprendendo) os instrumentos para minha filha, explicando a função do maestro, e no final do espetáculo, o número de pessoas envolvidas para que tudo saísse tão lindo. Essas apresentações no TCA foram o início de uma temporada nacional, então vou deixar registrada minha recomendação aos leitores de outros estados. Vou acrescentar apenas que na saída ouvi de minha filha o seguinte pedido: “mamãe, vamos voltar e assistir novamente?”

Bom, ela ouviu a história e a orquestra na escola, assistiu o espetáculo no teatro, e eu fiquei pensando que seria ótimo apresentá-la em livro. E foi assim que cheguei à adaptação da história por Heloísa Prieto, editada pela Ática. Quando o comprei fiquei com receio por ter um texto mais extenso, mas a história realmente envolve os pequenos leitores (em leitura compartilhada, claro). Mas o melhor foi quando chegamos ao final do livro, que termina com o seguinte trecho:

“...
De onde vinha esse barulhinho esquisito?
Adivinhe só:
Era a pobre Pata que não parava de falar dentro da barriga do Lobo.
Já pensou?
Como é que se faz para acabar com a dor de barriga do Lobo?
Você sabe se dá para tirar a Pata lá de dentro?
Então, me conte, porque o final dessa história nem eu consegui inventar!“

A minha pequena respondeu logo que o pato poderia sair sim da barriga do lobo, e em seguida questionou porque não havia uma página final com o desenho do pobre patinho saindo da barriga do terrível lobo. Respondi para ela que cada pessoa que lesse o livro poderia escolher o final que quisesse, inclusive com o pato não saindo da barriga do lobo, e imaginar como seria essa imagem, e que assim ficava tudo muito mais legal. Perguntei então como ela imaginava que o pato poderia sair e ela respondeu, com aquele ar de “que óbvio”, que Pedro enfiaria a mão na boca do lobo e tiraria o pato. Pronto, peguei papel, lápis e cola colorida e ela fez a ilustração do seu final. E na sua versão o lobo engolia não um, mas dois patos. Na verdade um casal, e o que se ouvia da barriga do danado era o “tam, tam, tamtam” da marcha nupcial dos patinhos se casando rsrs Colei o seu desenho com durex no final do livro e fiquei pensando para onde vai a nossa imaginação infantil depois que a gente cresce...



Eu tinha escrito esse post na quarta-feira passada, e ele terminava nos três pontinhos lá de cima, mas no feriadão uma ideia fervilhou na minha cachola. Pensei nela porque meu esposo ficou com nossas visitas enquanto íamos ao teatro, e a minha pequena Cachinhos falou que queria muito que o pai estivesse lá. Peguei cartolina branca, palitos de picolé e churrasco, e materiais diversos: cola colorida com glitter, tinta guache, canetinha hidrocor, papel crepon, papel veludo, lã e fizemos nosso próprio espetáculo para o papai. Colado na parede com durex nosso cenário: a casa de Pedro, a árvore e o lago. Presos aos palitos, os personagens, que eu e a filhota movimentávamos enquanto Rita Lee e a Orquestra Nova Sinfonieta contavam e tocavam a história de Pedro no nosso aparelho de som. Nem sei o que foi mais divertido, desenhar (o gato e o lobo pelo talentosíssimo marido, o passarinho arrepiado que está no alto da árvore pela fofa filhota e os demais pela atrapalhada aqui) e decorar os personagens e cenários, ou apresentar. No final, o recorrente "vamos de novo?" dessa Cachinhos insaciável...

21 junho 2011

quando Clara crescer...

Clara
texto: Ilan Brenman
ilustrações: Silvana Rando
editora: Brinque Book



Nossa família está vivendo uma fase fascinante, em que a pequena começa a dar passos mais precisos em direção ao mundo da leitura e da escrita. Já não é de hoje seu interesse pelas letras e palavras.  Curiosa, ela sempre gostou de observar e tentar imitar os leitores e escritores ao seu redor. Sempre li para ela passando o dedo sobre as palavras a medida que as lia, e ela gosta de me imitar quando brinca de ler. Mesmo antes de aprender as primeiras letras, gostava de rabiscar no papel bolinhas e bolinhas, como se fossem letras, em seqüência reta, algumas agrupadas, e com espaços entre os grupos. Dizia coisas como “vou assinar o papel” e o enchia de bolinhas. Pegava a revista de palavra-cruzada da avó e colocava bolinhas, uma em cada quadrado. No ano passado começou a aprender na escola as primeiras letras, e hoje já as domina bem, arriscando escrever as primeiras palavras. Não aceita mais que ninguém, além dela, preencha as etiquetas de presentes, bastando que soletremos o nome do aniversariante. Como é notório, eu estou adorando acompanhar esse processo, e fico encantada com suas descobertas, dúvidas, avanços, e a forma como gradativamente ela está ganhando firmeza e confiança.

Foi pensando em todas as delícias desse processo de letramento que escolhi o livro dessa terça-feira. Eu o conheci na internet, agora não me recordo exatamente onde. Tentei encontrá-lo nas prateleiras das livrarias, mas, sabe-se lá porquê, não tive sorte. Por fim, cansei e resolvi comprá-lo pela internet mesmo, no escuro. Quando chegam livros pelo correio, eu costumo recebê-los e aguardar um momento legal para apresentá-los a minha filha, mas nesse dia não deu, ela estava comigo quando Clara chegou e tivemos que ler juntas, um livro que eu ainda não conhecia... Vou resumir dizendo que o livro rapidamente virou um dos nossos favoritos.

Clara é uma menininha, como muitas outras, ansiosa por crescer e poder fazer coisas como os adultos fazem. Decidida, ela quer dirigir como a mãe, estalar os dedos como o pai, cozinhar como sua tia, e sabe que quando crescer fará tudo isso. As frases são simples e curtas, ideal para os menorzinhos, por volta dos 2 anos. A minha pequena pediu que eu o lesse tantas vezes que decorou seu texto. Foi a primeira vez que ela “leu” um livro para mim, e vocês não imaginam seu orgulho. Ia passando o dedinho pelas palavras, exatamente como eu faço, e repetindo as frases decoradas, ajudada pelas divertidas ilustrações de Silvana Rando. E o melhor, dando às frases as mesmas entonações que dou. Um livro para ter em casa e repetir a leitura muitas vezes.

14 junho 2011

É UMA VACA!!!

A vaca que botou um ovo
texto: Andy Cutbill
ilustrações: Russell Ayto
editora: Salamandra

O livro de hoje foi uma grata surpresa dentre os presentes de aniversário que minha filha ganhou em sua última festinha. Ela ganhou vários livros, o que meu deixou super feliz, e eu os fui lendo aos poucos. Não me perguntem o porquê, mas "A vaca que botou um ovo", apesar de super atraente visualmente, foi o último a ser lido. Sim, foi o último, mas foi provavelmente o que ela mais curtiu. Naquele dia em que o li pela primeira vez, o fiz mais umas 8 vezes, a pedido da pequena, em diferentes momentos do dia. E até hoje, em casa, ou quando o encontramos na livraria, esse pedido é repetido.

A história fala de uma vaca que não se sente especial, pois não consegue fazer coisas legais como as outras vacas, que andam de bicicleta e plantam bananeira (!!!). Até que um dia essa vaquinha comum bota um ovo, e causa um fuzuê na fazenda, gerando admiração, orgulho, curiosidade e inveja. O livro é uma delícia, colocando esses sentimentos tão fortes e presentes na vida de todos de uma forma leve e divertida. As ilustrações são um capítulo à parte. Quase dá para ouvir os gritos que os personagens soltam, ou  o barulhinho do ovo quebrando, e dá medo de cruzar o olhar fulminante das vaquinhas invejosas. Mas o que mais gostei desse livro é que ele tem um final sensacional e dá à criança a possibilidade de interpretar a história como quiser, e de voltar atrás na sua interpretação.

A minha pequena de cachinhos, quando ouviu a história pela primeira vez gritou ao ver a ilustração do ovo quebrado (já no finalzinho do livro): é uma galinha. E nas enésimas vezes seguintes, ao ver a mesma ilustração: é uma vaca. Quem disse que não se pode mudar de opinião depois de uma primeira impressão? A vida nos convida a isso o tempo inteiro, não é? É esse o convite que o livro faz aos pequenos e grandes leitores, e ela aceitou o convite e fez sua escolha: é uma vaca, e tenho dito.

07 junho 2011

As princesas soltam pum?

Até as princesas soltam pum
texto: Ilan Brenman
ilustrações: Ionit Zilberman
editora: Brinque-Book

Eu tenho uma boa quantidade de livros maravilhosos que gostaria de trazer aqui, mas não poderia começar com nenhum outro além do “Até as princesas soltam pum”, de Ilan Breman, com ilustrações de Ionit Zilberman, editado pela Brinque Book. 

Provavelmente a maioria já conhece, pois ele tem sido um grande sucesso desde o seu lançamento – aliás, recentemente foi lançada uma versão especial em capa dura, que eu consegui adquirir. Eu o conheci há alguns anos numa das minhas livrarias favoritas, enquanto buscava um presente para uma menininha muito querida por todos aqui em casa. Ela tinha concluído há pouco o ensino infantil, e eu queria comprar um livro especial para a pequena leitora. Quando bati o olho nesse livro, fui fisgada pela certa contradição entre a delicadeza da ilustração de sua capa e o seu título inusitado, e depois de correr suas páginas percebi que minha busca havia acabado. Daí em diante esse foi o livro que mais dei de presente para menininhas a partir dos  quatro anos (costumo anotar para quem já dei para não repetir o presente rsrs). 

Minha filha tinha acabado de fazer dois aninhos quando o conheci, e eu fiquei esperando que ela crescesse um pouco mais para apresentá-lo. Foi quando, perto do seu aniversário de quatro anos, ela o viu numa prateleira da livraria, e parece que foi atingida em cheio, igualzinho a mim. Pediu que eu lesse e riu muito com a história deliciosa de Laura, uma menina que chega da escola com uma grande dúvida: as princesas soltam pum? Só o fato de levantar uma questão escatológica já arranca risinhos e prende a atenção das crianças nessa idade, mas o livro vai além, e a história se desenrola pela divertida forma que o pai de Laura encontra para responder à pergunta da filha, deixando claro que sim, as princesas, como todos nós, soltam pum. Graças a Deus, né? Já pensou que chatas elas seriam se nem um punzinho pudessem soltar? rsrs

Cachinhos Leitores e Cachinhos Dourados


Eu sempre gostei muito de ler, e a leitura é algo que me acompanha desde que consegui decifrar as primeiras letras. Na escola eu nunca fui uma aluna muita aplicada, mas vivia na biblioteca devorando livros e textos literários. Lembro de filar a aula de física de um professor detestável para ficar na biblioteca lendo, e de uma vez ter tirado o primeiro lugar em um concurso que a biblioteca da escola promoveu como a aluna com maior empréstimos de livros. Tive várias fases: Para gostar de ler, Pedro Bandeira, Paulo Coelho, Jorge Amado, e clássicos como José de Alencar e Machado de Assis. Sem falar nos gibis que eu amava. Mas tem um tipo de literatura que sempre me encantou, mesmo na vida adulta: a literatura infantil. Eu guardo até hoje, com o maior carinho, alguns dos meus primeiros livros infantis, e desde que me tornei mãe, essa paixão veio a tona com força total. Fico encantada com as possibilidades dos livros infantis, adoro ver as ilustrações, sentir a textura, e imaginar como cada palavra vai chegar aos ouvidos dos pequenos leitores.


É pela paixão que os livros infantis despertam em mim que decidi criar o Cachinhos Leitores. Mas é preciso dizer que não sou nenhuma especialista no assunto. Não tenho nenhum tipo de formação que me capacite a tecer grandes comentários, e sou mais uma apaixonada que uma entendida nos livros infantis. Por isso a proposta do blog é extremamente simples: serão postagens semanais, provavelmente às terças-feiras, trazendo sempre a dica de um livro infantil que eu realmente recomende, a partir da minha visão de leitora e mãe, sempre com umas pitadas do meu dia a dia

Ah, sobre o nome do blog, há duas explicações. A primeira está descrita no perfil dele, e refere-se ao fato de nossa família ser cheia de cachinhos, e de adorarmos isso. A segunda tem a ver com o primeiro livro infantil que li na vida. Meus pais liam muitos livros para mim, mas era ainda uma leitura compartilhada. Eu estava começando a arriscar minhas primeiras leituras individuais, e estava em uma manhã de sábado na casa dos meus avós, quando meus pais, que haviam saído para fazer compras, voltaram com um pequeno livro para mim: Cachinhos Dourados. Eu fiquei eufórica e pedi ao meu pai que o lesse para mim, ao que ele respondeu “não, você o lerá sozinha”. Apesar de tanto tempo já ter se passado, lembro-me com exatidão do susto que tomei. Ainda não me sentia preparada para aquilo. Insisti que ele lesse, argumentei que não conseguiria, e meu pai afirmou com aquele jeito inegociável que ele tem, que não tinha a menor dúvida que eu conseguiria. Insegura, abri o livro e comecei a leitura, amparada por ele e por minha mãe. Fui lendo as pequenas frases oscilante, mas a voz foi ganhando firmeza, e ao final do livro eu tinha um sorriso triunfante no rosto. Jamais esquecerei as sensações desse episódio da minha infância, que é um dos que trago mais claro na minha memória. Eu conseguia ler!!! E nunca mais consegui parar.