31 janeiro 2012

Papai Noel me trouxe OBAX!!!

Obax
texto e ilustrações: André Neves
editora: Brinque-Book

Eu adoro dar livro, e mais ainda ganhar livros. Geralmente eu simplesmente os compro, mas de vez em quando sonho em abrir um pacote com aquele livro desejado ... coisa rara. E quando isso não acontece espontaneamente, eu escrevo minha cartinha e procuro ser uma boa menina enquanto aguardo a noite de natal. Por isso, este ano levei meu marido à livraria e mostrei novamente Obax a ele, com um explícito "é esse, não esquece"...

Certo é que agora ela está aqui, morando conosco. Acabei de lê-lo para Cachinhos, que dormiu antes do seu final, e me deixou a sensação de que seu sono está embalado pelas histórias da pequena Obax, que nasceu na savana africana e não se cansa de viver todas as aventuras que sua imaginação permitir. Ninguém na aldeia acredita em suas histórias, e apenas sua mãe parece compreendê-la. Mas a corajosa Obax, embora fique triste por não ser acreditada, não se rende e não desiste de sonhar, até que uma chuva de flores mostra a todos que as histórias de Obax não devem ser ignoradas.

Preciso dizer que Obax é um livro lindo, emocionante, que me conquistou desde a primeira folheada. E não sou só eu que penso assim. Obax é altamente recomendável pela FNLIJ 2011, está nos catálogos The White Ravens 2010 e de Bologna 2011, e  deu a André Neves o prêmio Jabuti de melhor livro infantil de 2011. Ah,  e foi recentemente lançado em italiano. Até o ex-presidente Lula se rendeu aos encantos de Obax. Preciso dizer que André Neves, que criou, ilustrou e escreveu a história de Obax, pertence hoje ao grupo que compõe o que o Brasil tem de melhor em literatura infantil. Que suas histórias e ilustrações nos fazem mesmo sonhar. Preciso dizer que Obax tem poesia, tem fantasia, tem crença no poder do sonho e da imaginação. E tem ilustrações tão lindas e significativas que vale uma "leitura" sem palavras. A ilustração abaixo (minha favorita) precisa de algum acompanhamento verbal?


Sem medo de errar, Obax foi um dos melhores presentes que papai noel me trouxe.

Leia sobre Obax aqui, aqui e aqui.

24 janeiro 2012

Para criar passarinho

Para criar passarinho
texto: Bartolomeu Campos de Queirós
ilustrações: Guto Lacaz
editora: Global



Os livros e pensamentos de Bartolomeu Campos de Queirós passaram feito um furacão pela minha vida. Eu não conhecia o escritor mineiro até cerca de 1 ano e meio atrás. Nem sei como podia não conhecer seus livros, acho que estava em Marte!!! Foram mais de 40 títulos para o público infanto-juvenil. E que livros...


Bartô tinha o dom da escrita, aquele dom que não está disponível para qualquer um. Seus textos saem precisos, escorregam tranquilos ou saltam às cambalhotas como se tivessem vida, com a exatidão de quem sabe exatamente para que veio. Um afago, uma risada, uma lágrima, um aperto constrangedor. Precisas, cada frase sabe exatamente seu papel no texto. Mas não é só isso, Bartô também era o escritor das metáforas, e nisso ele dava baile. As frases tinham precisão, mas vinham costuradas em seus alinhavos metafóricos, e assim ele dizia o que queria quase sem parecer. Ah, e tinha o Bartô brincalhão, que brincava com as letras, com as palavras, seus significados. O nosso português era um parque de diversões para ele, que trocava, rimava, destrocava, e mostrava a magia que há no nosso alfabeto.


Descobrir o escritor Bartolomeu foi para mim revelador. Mas também não foi tudo. Pude também descobrir um pouco do Bartô educador, estudioso do processo educativo. Idealizou o Movimento por um Brasil Literário, deu aula para educadores e ministrou palestras sobre o tema por todo o Brasil. Palestras que sonhei um dia assistir. Ele deu uma entrevista ao Projeto Paiol Literário que não me canso de ler e reler. Estou sempre descobrindo algo novo que não percebi na última leitura. Imprimi e distribui na escola de minha filha, a amigos educadores, e tenho uma cópia na minha pasta de trabalho. Leiam, é longo mais vale a pena. Vou reproduzir abaixo a parte que mais gosto:


" Quando entrei na escola, já sabia ler e escrever — o meu avô já havia me ensinado. Mas tinha tanta vontade que a dona Maria Campos — minha primeira professora — gostasse de mim, que resolvi esquecer tudo. E aprendi tudo outra vez. Ela ficava tão feliz comigo aprendendo tudo o tempo inteiro, rápido. E tudo o que queria na vida era que ela gostasse de mim, mais nada. Quando dava aula para professores em especialização, brincava com eles. Acho que a criança quando entra na escola, não aprende porque vai prestar concurso, vestibular, nada disso. Ela aprende para ser amada por aquele que sabe. E o professor é aquele que sabe e ela quer ser amada por aquele que sabe. Acho que a aprendizagem no início da infância está na ordem puramente do afetivo. Sem isso não dá."


Mas deixa eu falar do livro que trouxe hoje. O meu favorito dentre os escritos por Bartô que já tive contato. É um livro juvenil, com bastante texto, por isso ainda não foi apresentado a Cachinhos. Está no meio dos meus livros mais queridos. Nele Bartolomeu abusa do seu dom, de usar as metáforas, de fazer as palavras escorregarem em uma prosa poética precisa, como sempre. Mas o livro é mais que isso, para mim é um tributo a liberdade, ao fazer-se livre para bem deixar livre. Escrevendo este post o li e reli com a difícil missão de escolher a minha página preferida para reproduzir aqui. Não consegui, não sem sentir dúvidas. Por isso vou reproduzir duas. A primeira porque seu alinhavo fala mais forte para meu momento atual. A segunda porque é a última página do livro, e de certa forma tenho a sensação que sintetiza o que o artesão Bartô queria dizer.


"Para bem criar passarinho é conveniente amar as quedas de cachoeiras, as águas evoluindo nos rios e barulhos de chuva sobre as telhas, imitando grãos em peneira. Isso se faz possível se houver liberdade para as buscas, tempo para a solidão e saudades mansas de outros lugares ainda por conhecer"


"Para bem criar passarinho é necessário prender o universo - dos mares ao firmamento - em uma gaiola respirando azul e infinito por todos os lados. É seguro declarar que nenhum espaço é demais para os voos. Para bem criar passarinhos é preciso experimentar as asas, sempre."

22 janeiro 2012

Quando tudo começou.

O grande urso polar
texto e ilustração: Jack Tickle
editora: Ciranda Cultural

No natal de 2008 a filhota tinha acabado de fazer 2 aninhos, e foi a primeira vez que eu lhe dei um livro como presente de natal. Ela tinha basicamente livros cartonados ou plastificados para banho, e este foi seu primeiro livro pop-up. Depois não vieram muitos. Confesso que sou meio chata para livros pop-up, e é chatice mesmo. Eles geralmente possuem textos bobos e vazios, e me angustia ver o manusear descuidado das crianças menores destruir suas dobraduras. Mas admito que eles são interessantes e encantam os pequenos. Tanto é que este foi seu livro preferido por bastante tempo. A coleção tem vários títulos, e dei muitos de presente, sempre com ótima receptividade. Ah, e seus textos, apesar de bem simples, não são bobos como alguns similares, e trazem sempre como tema animais, que são imbatíveis com os pequenos.

Hoje prefiro para as crianças menores os mais resistentes. Dei recentemente para meus sobrinhos livros cartonados mas com surpresinhas nas páginas. Acho bem mais interessantes e reduzem minha aflição (neura). Sei que muitos defendem que os livros devem ser usado e manuseados à exaustão pelas crianças, e pelos adultos, mas eu discordo disso. Aqui em casa temos livros na cozinha, na sala, nos quartos, em estantes, em revisteiros, em nichos, eles estão espalhados por todos os lados e sempre a mão. Mas todos eles são muito bem cuidados e conservados.

De acordo com a idade de minha filha eu liberei que ela os manuseasse com menos ou mais cuidado, mas a medida que via que ela já tinha condição de cuidar melhor ia ensinando e chamando sua atenção. Nunca permite que ela os riscasse (sempre oferecendo papel apropriado) ou rasgasse, mesmo quando bem pequena. Nunca deixei ela os atirar longe ou pisar neles, afinal ela tinha outros brinquedos que permitiam isso. Mas na fase oral ela podia lamber, morder, babar. Na fase de refinar a coordenação, quando eles adoram repetir um gesto milhões de vezes, podia manuseá-los do seu jeito "sem jeito". Isso estragou muitos dos livros, mas tudo bem, se os livros eram apropriados para a idade, apesar de machucados iriam resistir minimamente e foram feitos para isso mesmo. Mas já vi um pop-up ser rasgado por uma criança em fração de segundos (isso com um livro da livraria, acreditem), e a partir daquele momento ele nunca mais iria servir para o que se propôs. Por isso não sou fã dos pop-ups para os pequetitos.

É claro que eu defendo que as crianças tenham o máximo de acesso aos livros, e se familiarizem com eles desde muito cedo, mas associado a isso que aprendam a cuidar e preservá-los. Isso também se aprende cedo.

16 janeiro 2012

Brincando com as palavras no céu...

Hoje o dia começou estranho, uma manchete no noticiário nacional me tirou o prumo. Bartolomeu Campos de Queirós morreu esta madrugada. O homem que sabia o que se precisa para criar passarinho, que conhecia o quão amargo pode ser um tomate vermelho, que brincava e dançava com as palavras como se elas tivessem vida e asas, agora vai montar seus jogos no céu. Para quem acredita que a morte não é o fim de tudo, imagino um Bartolomeu risonho tecendo textos e estruturas em outras pradarias.

Mas isso não reduz a minha dor de não tê-lo conhecido pessoalmente. Como queria ter ouvido uma palestra sua, quem sabe trocado duas ou três palavras. Queria ter dito o quanto o admiro como escritor e estudioso da nossa língua e do processo de educação. Fiz um contato por e-mail há alguns meses. Coisa de fã enebriada com o seu último livro: Vermelho Amargo. Ele respondeu prontamente à mensagem, dizendo-se feliz por seu livro ter me agradado tanto. E foi só. Não terei outra chance de contato.

Agora penso se vale a pena esperar "hora boa" para fazer algo que se deseja, como conhecer pessoalmente quem se admira. Ou dizer, mesmo que por e-mail, tudo que se sente em relação a outro. Hoje tenho certeza que não...

15 janeiro 2012

Tudo tem um começo.

Como começa?
texto: Silvana Tavano 
ilustrações: Elma
editora: Callis

Em 2009 eu comprei um livro para a Cachinhos que estava atiçando minha curiosidade já há algum tempo. Altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ), e juntando duas artistas que eu adoro (Elma e Silvana Tavano), não tinha como esperar pouca coisa. E foi ele o nosso presente naquele natal.

Como começa? é um daqueles livros doces, cujo desenrolar quase nos faz um afago. Tudo tem um começo, e seu texto nos faz lembrar de vários começos que por vezes esquecemos, como o começo das aulas e o começo das férias, e outros que nem sabemos, como o começo do mar e o começo da areia. Como começa a chuva, a risada e o bocejo? As palavras vão deslizando de uma forma deliciosa, mas, na minha opinião, são suas ilustrações quem roubam a cena. Elma é minha ilustradora preferida (ever), e nesse livro ela se superou. Seus personagens de olhinhos miúdos, pescoços grossos (ou simplesmente sem pescoço) e metade do rosto sombreado, me falam mais que muitas palavras. Não consigo passar por um livro seu em uma prateleira de livraria ou biblioteca sem pensar imediatamente "essa ilustração é de Elma". Tenho outros livros seus, e certamente os trarei aqui, mas Como começa? sempre foi especial para mim. Está na minha lista de obras primas da literatura infantil.

Naquele ano não fiz dedicatória, comecei a fazer no ano seguinte, mas hoje, escrevendo este texto, resolvi que ele (o livro) e ela (a filha) mereciam uma dedicatória sim. Então ficou assim:

"Para nossa filha, que foi o começo de uma nova fase, que nos tornou mãe e pai.
Que em todos os seus começos, e recomeços, você não perca a doçura de hoje.
com amor, Mamãe e Papai.
Natal de 2009"

03 janeiro 2012

O rei de todos os monstros

Onde vivem os monstros
texto e ilustrações: Maurice Sendak
tradução: Heloisa Jahn
editora: Cosac Naify

No natal de 2010, demos a Cachinhos um livro que me deixou empolgadíssima quando foi lançado no Brasil, junto com o filme de mesmo nome: Onde vivem os monstros. Eu não o conhecia até então, mas quando isso aconteceu foi amor a primeira vista.

Escrito em 1963 pelo norte-americano Maurice Sendak, o livro é um clássico nos EUA, adorado por todos. Não é a toa, o livro é um convite ao mundo das fantasias infantis, com um texto conciso e cheio de nuances, e ilustrações envolventes. Max é um menino que descobre o lugar onde vivem os monstros e se torna o rei deles. Ele havia feito muita bagunça naquele dia, e a mãe o mandou para a cama sem comer nada, depois de chamá-lo de monstro. O mais cativante do livro é que ele explicita algo que toda criança algum dia na vida deve ter pensado: fugir de casa para um lugar onde o seu jeito de agir e pensar não apenas fosse aceito como exaltado. E ele comanda os monstros mais horripilantes com o truque mágico de olhar nos olhos amarelos deles sem piscar nem uma vez, e institui a bagunça geral, que o leitor acompanha em suas incríveis ilustrações. Até que ele também manda os monstros para a cama sem jantar, e percebe o quanto deseja estar em casa novamente, no lugar onde alguém gostasse dele de verdade. E é assim que Max, sob os protestos dos monstros,  seus comandados, toma o caminho de volta, e chega a seu quarto "onde encontrou o jantar esperando por ele, ainda quentinho". O jeito como as frases são lançadas, permitindo que o leitor construa sua história, amparado pelas ilustrações, é o que mais me atrai. E a visão de um prato de sopa quentinha esperando um filho que precisa naquele momento extravasar sua rebeldia me cola um sorriso no rosto.

A dedicatória ficou assim:

"Para nossa querida filha.
Do Papai e da Mamãe, que vão sempre esperá-la com o jantar ainda quentinho.
Natal de 2010"

PS: o filme não é para os menores, sua censura é 10 anos.

01 janeiro 2012