29 outubro 2012

Iguais, mas diferentes!

Sai pra lá!
texto e ilustrações: Ana Terra
Editora: Larousse Júnior

Ainda refletindo sobre a discriminação e a reprodução de estereótipos, lembrei desse livro super fofo e divertido que acho que alcança bem as crianças a partir dos 3 anos. Sai pra lá! conta a história de quatro ovelhas: Branca, Albina, Neve e Clara. Quatro ovelhas fofinhas e branquinhas, que adoravam exibir sua bela lã. Mas um dia... ah, um dia Clara sumiu! Mas não sumiu por muito tempo, não. Logo ela reapareceu... sem sua lã. Pois é, Clara estava rosada e magrela, provocando muitas risadas das amigas.




E não demorou muito para Albina também sumir, seguida de Neve e Branca. Ops! Atrás da moita surgiram três ovelhas magrelas e rosadas, e desta vez, Clara sorriu baixinho: "agora todas estavam iguais a ela". IGUAIS? Apenas agora, sem lã, foi possível descobrir que Neve tem uma manchinha na pele, Albina tem perna fina, Branca usa calcinha de elanca e Clara... ah, Clara é a única ovelha que sabe cantar! A gaúcha Ana Terra é uma ilustradora encantadora (veja aqui), e tem se mostrado também uma excelente autora. As ilustrações do livro utilizam várias texturas e elementos, como fotografias, rendas, filós, tecidos e papéis reciclados, além de serem absolutamente cute! :)


Uma história simples que destaca como, por mais parecido que pareçamos, todos temos nossas particularidades, nossas características que nos fazem únicos. Um assunto que merece ser levado às crianças, já que na maioria das vezes elas (em especial as tímidas) preferem mesmo realçar o que as iguala e disfarçar o que as diferencia. E isso me lembra uma historinha recente nossa: na semana passada minha filha foi convidada para uma festa de halloween no nosso prédio. Perguntei a ela que fantasia ela gostaria de usar, torcendo que escolhesse de bruxa, pois já tinha alguns elementos em casa. Ela escolheu fantasiar-se de fantasma, provavelmente incentivada por este livro que ela adora. Perguntei se ela não preferia a fantasia de bruxa, numa última tentativa de facilitar a minha vida, mas ela foi taxativa, queria ir de fantasma. Ok! Pesquisa na internet, visita armarinhos, e passei a manhã de sábado produzindo com tnt branco a tal fantasia de fantasma - tarefa que eu adorei, na verdade... rsrs À noite, fiz uma maquiagem com muita sombra branca em seu rosto, e entre risadas e gritinhos, a mandei feliz para a festa com o pai.

Menos de 10 minutos depois voltam os dois, ela chorosa, ele irritado. Resumo da ópera: 95% das meninas da festa estavam vestidas de bruxa, e ela era o único fantasma, chamando atenção de todos. Choramingando me disse que não queria mais aquela fantasia, que não tinha gostado de ser fantasma e queria uma fantasia de bruxa. Nas entrelinhas descobri que um menino olhou espantado quando ela chegou e deve ter feito algum comentário maldoso que ela não quis me contar. Conversa daqui, conversa de lá, fui tentando fazê-la perceber primeiro que seu problema não era a fantasia, que obviamente ela tinha adorado. Depois disse que sua fantasia era sensacional, porque era exclusiva... "mamãe, o que é exclusiva?". O final da história é uma fantasminha camarada que curtiu muito sua primeira festa de halloween e chegou em casa depois das 22h descalça, suada e exausta!

Sempre curti e incentivei a autenticidade dela, que sempre mostrou pouco interesse e preocupação em "seguir a manada". Mas de uns meses para cá isso tem começado a mudar. Ela ainda é criativa e espontânea, mas tem se mostrado em alguns momentos influenciável - como quando pede para assistir Carrossel, claramente para acompanhar o "papo na escola". Espero que ela não demore muito a perceber que há muitas vantagens em ser diferente, em ser exclusiva. Mesmo que de vez em quando desejemos apenas "sumir" na multidão...

25 outubro 2012

Das surpresas que a simplicidade pode esconder...

Aperte Aqui
texto e ilustrações: Hervé Tullet
editora: Ática

Ontem à tarde comecei a escrever um post sobre um livro que nós gostamos muito, com o intuito de colocá-lo hoje no ar... mas ele vai ter que esperar um pouco mais. É que à noite fui à livraria pegar um livro que comprei pela internet e claro, aproveitei para dar uma olhada nas prateleiras da sessão infantil. Já tinha visto Aperte Aqui algumas vezes, inclusive na seleção 2012 dos 30 melhores livros infantis da Crescer, mas só ontem resolvi folheá-lo. Sua capa predominantemente branca, com três bolinhas de cores diferentes, não é mesmo das mais instigantes. Além disso, sempre julguei que fosse direcionado a crianças muito pequenas, daqueles livros bobinhos que ensinam cores e formas – quem disse que não há preconceito literário e que estou imune a ele?

Mas enfim peguei o livro e fui ficando mais e mais surpresa a cada virada de página. Ele é muito, muito bom! Divertido, estimulante e com um projeto gráfico lindo. E de uma simplicidade que chega a ser desconcertante que um livro tão bom seja tão simples rsrsrs É realmente um livro para crianças pequenas (indicação a partir de 2 anos segundo a Crescer), mas será que crianças maiores reagiriam bem a ele? Testei na hora. Chamei minha filha (quase 6 anos), sentamos em um cantinho e o entreguei pedindo que ela lesse suas frases simples. Foi delicioso perceber que ela entrou na brincadeira imediatamente, já na primeira página, que apresenta uma bolinha amarela e diz “Aperte a bola amarela e vire a página”. A pequena apertou e virou, continuando com a brincadeira. E ela ria e ria, enquanto obedecia às ordens de “clicar”, sacudir, virar para a esquerda, virar para a direita, soprar, bater palmas. Fico com os dedos coçando para contar mais sobre ele aqui, mas não vou estragar a surpresa para vocês.

Absolutamente interativo, ele apresenta novas possibilidades para os livros em plena era digital, onde as crianças estão tendo acesso cada vez mais cedo à internet, jogos eletrônicos, aplicativos em celulares, tablets e toda sorte de brinquedos. Aliás, hoje, falando empolgada dele para meu marido, disse exatamente isso, que achava que sua proposta era mostrar que é possível aos livros permitirem interação, aventura e surpresa tanto quanto os aplicativos eletrônicos. Para mim até mais, pois um leitor tem muito mais espaço para imaginar e criar que um usuário digital, ou não é?

Ainda é preciso dizer que sua impressão é muito bem cuidada, com capa dura e papel fino, mas resistente, e que Hervé Tullet é francês, artista plástico e autor de vários livros infantis de sucesso – mas este é o seu primeiro livro lançado no Brasil. Recomendadíssimo! Fico pensando nas crianças que conheço que certamente o curtiriam, principalmente aquelas que andam valorizando demais brincadeiras eletrônicas... e sei que ele será uma ótima opção de futuros presentes. Presente para crianças de todas as idades... inclusive da minha rsrs

21 outubro 2012

Um carrossel de estereótipos e um morango sardento

Morango Sardento
texto: Julianne Moore
ilustrações: LeUyen Pham
tradução: Fernanda Torres
editora: Cosac Naify 

Conheci o livro de hoje há bastante tempo em uma livraria, mas só esta semana tive a oportunidade de comprá-lo e analisá-lo com calma. Foi o presente escolhido para uma pequena aniversariante desta semana. É o primeiro livro da atriz Julianne Moore, e retrata sua própria infância, a infância de uma menininha de cabelos vermelhos e muitas sardas, que na escola era perseguida pelo apelido de Morango Sardento. Ser diferente despertava a curiosidade - e crueldade - dos seus colegas da escola, e ela negava aceitar-se como era, e queria livrar-se das sardas a qualquer custo. Mas nenhuma das suas tentativas - de esfregão à canetinha - eliminara as pintinhas em seu corpo. Evitar destoar da maioria e buscar aceitação é bem a fase que tenho percebido a filhota e seus amigos entrarem (5 a 6 anos). Também tenho percebido o início de uma certa vigilância para identificar e apontar aquele que é diferente... Para quem acredita que essa nova geração pode fazer melhor do que as que aí estão, é momento de muita atenção e orientação. Porque preconceito e discriminação é coisa que se aprende, e das mais diferentes formas: uma frase dita em casa, uma imagem vista na rua, numa conversa com colegas da escola, e claro, na televisão.

E refletindo sobre tudo isso, não pude deixar de lembrar da atual sensação televisiva para crianças:  Carrossel. Aqui em casa não assistimos novela há muitos anos, e eu que quase nunca assisto TV (meu vício é mesmo a internet) sequer sabia que a novela que eu assisti na adolescência estava de volta numa versão brasileira. Mas a filha descobriu tudo sobre o programa na escola. Uma criança começou a assistir e em uma semana todas as crianças da salinha de cinco anos queriam assistir também. Não foi diferente com a minha criança, e lá fui eu descobrir o conteúdo do programa para saber como agir. A fórmula é basicamente a mesma da primeira versão: uma turma escolar que tem uma professora boazinha e uma diretora má, recheada pelos dilemas escolares e familiares dos alunos. Bom, é preciso dizer que a versão SBTeana veio acrescida de cavalares doses de merchandising (nunca reparou? veja aqui, aqui e aqui), mas nem vou falar disso já que outros já fizeram com muito mais competência.

O que eu gostaria de comentar é o fato dessa inocente novelinha infantil desfilar um elenco de crianças estereotipadas, que rapidamente viram referência para nossas crianças. Sim, tem a gorda que é abobalhada e rasga roupas ou fica presa nelas, o negro que é pobre e vive sendo humilhado, a rica que é fútil, egoísta e preconceituosa, o gordo que só pensa em comer e tira as piores notas, os meninos "expertos" que são levados e maldosos, dentre outros... e não faltam cenas em que suas características são expostas e muitas vezes ridicularizadas (sem falar na faxineira nordestina que fala errado e é intrometida). Pois é, uma reprodução dos preconceitos e das segregações que nossa sociedade reproduz diariamente, mas embalada numa atraente trama para crianças, sem limite de idade. E como são atraentes!!! São crianças como eles, com realidade e dilemas como os deles, além de um bom repertório musical, um cenário colorido e situações engraçadas. Não sou especialista, mas sou mãe e observadora, e sei que não precisa de muito para perceber o quanto as crianças se identificam automaticamente com outras crianças em situações que lembrem as suas: escola, colegas, relacionamento com professores, pais, irmãos, amigos, brincadeiras, estudos, enfim. Eles se identificam e querem imitar, reproduzir a "fantasia do real" em suas vidas.

Sim, eu sei que a menina preconceituosa vai se arrepender de tudo que fez, assim como os meninos maldosos, e que o que tira notas baixas vai passar a se destacar na turma, e todos viverão felizes para sempre... mas a criança pequena não fica esperando o final da novela, ela é esponjinha que absorve a informação agora, já. E eu posso dar um exemplo disso: minha filha e todos os seus coleguinhas da escola acham Maria Joaquina boba e egoísta, mas há algumas semanas ela veio da escola contando que um colega lhe disse que não queria mais ser seu amigo pq assim como Cirilo ela também é negra. Crianças pequenas não entendem os artifícios usados para se desenrolar um enredo, principalmente um enredo que se estende por tantos capítulos e dias, e uma trama que sofre várias idas e vindas e pequenas reviravoltas. Elas não percebem as nuances de críticas e ironias contra atitudes condenáveis, principalmente quando envoltas em situações engraçadas ou dramáticas. Aliás, essa é uma habilidade que muitos adultos não conseguem desenvolver também... E o que assistimos é a reprodução de velhos e mofados estereótipos e condutas, para uma galerinha que merecia muito mais!!!

Mas infelizmente, o que tenho notado é que poucos pais questionam e analisam o conteúdo que chega aos seus filhos através desta novela - novela para criança, veja só... - e acabam achando legal e "fofinho"  que os filhos queiram repetir frases, comportamentos e produtos usados pelos personagens (o que, claro, os marqueteiros já perceberam e lançaram toda sorte de produto com a marca). Sei que muitos dos que me leem deixam os filhos acompanharem a novela, e não quero aqui ditar como devem agir, mas quero deixar minha opinião pessoal sobre o assunto e convidá-los a refletir sobre isso. O conteúdo é ruim, não é adequados para crianças pequenas porque reproduz estereótipos e massifica comportamentos, além de ser extremamento abusivo na publicidade de produtos para o público infantil. Temos melhores opções para eles e eles merecem que selecionemos com cuidado a programação que eles têm acesso. Pensem nisso!!!

Quem sabe daqui uns anos, mesmo que sejam muitos, ter cabelo vermelho e sardinhas não seja motivo para piadas maldosas nem para o desejo de mudar de aparência? Quem sabe essa geração não nos ensina que o diferente é apenas... diferente? Eu, e minhas muitas sardas escuras, acreditamos nisso.

Como disse Débora Bloch na contracapa do livro "Quando a gente é criança, sempre pensa que é melhor ser diferente do que a gente é. Mas quando cresce, descobre que tanto faz."



O segundo livro de Morango Sardento foi lançado, e mostra a protagonista tendo problemas com o valentão da escola... adianto que ela consegue driblar a situação muito bem...


Morango Sardento e o valentão da escola
texto: Julianne Moore
ilustrações: LeUyen Pham
tradução: Denise Fraga
editora: Cosac Naify 



11 outubro 2012

Compartilhando brincadeiras e uma chapeuzinho vermelho

Uma Chapeuzinho Vermelho
texto e ilustrações: Marjolaine Leray
editora: Companhia das Letrinhas

O post de hoje tenta atender a um convite feito pelo Movimento Infância Livre de Consumismo, que neste dia das crianças está promovendo uma série de ações e reflexões sobre a questão comercial e o consumismo desta data. Nesse contexto foi lançada uma proposta de reflexão coletiva sobre a experiência do brincar criativo em família, através da blogagem de fotos, textos, desenhos, ou tudo junto, com o tema "Dia das Crianças: Compartilhe brincadeiras". O objetivo é mostrar como brincar e ser feliz não tem nada a ver com consumismo, e que o DIA DAS CRIANÇAS vai ser muito melhor aproveitado pelos homenageados se for comemorado com diversão em família do que com brinquedos caros.

Fiquei cá com meus botões pensando que brincadeira poderia colocar aqui, que, claro, não fugisse ao tema do blog, e imediatamente lembrei do teatrinho de Chapeuzinho Vermelho que fizemos aqui em casa há umas 3 semanas. Não é primeira vez que esta mesma parede recebe um cenário para um teatrinho de papel. A primeira vez foi com Pedro e o Lobo, e foi devidamente registrado aqui. Mas desta vez foi diferente, pois a ideia foi totalmente dela, enquanto da outra fui eu quem a convidou a montar a brincadeira. Além disso, a minha participação na criação dos desenhos e dos personagens foi quase nula, e foi a pequena quem bolou praticamente tudo. Inclusive o caçador que usa uma serra elétrica ao invés da espingarda (!!!).



Uma brincadeira extremamente simples, mas muito divertida. Uma diversão que começa com a escolha da história, o planejamento do teatrinho, a confecção do cenário e dos personagens, e a apresentação no final. Aliás, estou adorando essa fase da minha pequena, de maior autonomia para inventar, idealizar e executar brincadeiras assim, simples e criativas, usando apenas os elementos que já temos a mão. Eu topo quase tudo que ela propõe, e incentivo todas as suas manifestações de arte, mesmo que o desenho fique meio desproporcional, ou que eu saiba que se eu mesma fizesse o resultado seria melhor. Aliás, o resultado final é o que menos importa nesse processo...

E isto me lembra um livro e um blog que eu adoro. Conheci Uma Chapeuzinho Vermelho no blog Kids indoors, da super talentosa Gisele Barcellos, e o comprei em seguida. Ela é mãe e foi arte-educadora, e no seu blog dá várias dicas de atividades lúdicas e artísticas para as crianças, além de ótimas dicas de livros. O que eu mais gosto no seu blog é exatamente esta liberdade que ela dá às crianças para criarem e se manifestarem através das artes, e no post de Uma Chapeuzinho Vermelho a brincadeira que ela criou com os filhos foi reproduzir os personagens do livro, que são apenas o lobo e a Chapeuzinho, com arames coloridos.

Tudo a ver com a proposta de Majorlaine Leray, que conta a manjada - mas irresistível - história da menina encapuzada de um jeito muito especial: ela descreve apenas o encontro dos dois principais personagens, que são ilustrados somente com as cores preta, para o lobo, e vermelha, para a Chapeuzinho, com traços simples, como rabiscos infantis. Os diálogos também são simples, com letra cursiva e seguindo as cores dos personagens - preta para o lobo e vermelha para a Chapeuzinho - e o desenrolar da história é totalmente surpreendente. Ah, porque essa Chapeuzinho, de bobinha não tem nada, e ao invés de tremer de medo diante do temível lobo que a queria devorar, saca uma ideia simples e consegue enganar o bichão... tolinho! A proposta do livro é mesmo ser pouco convencional, substituindo ilustrações fofinhas por rabiscos aparentemente aleatórios, mas que expressam muito bem os personagens, e dando a história, por todos decorada, novas possibilidades. E aí, quantas vezes tolhemos a imaginação e manifestações das crianças por serem "pouco convencionais"?

Desconstruir histórias tradicionais, encontrar novas formas de expressão que fogem do padrão estético considerado "ideal", é uma das forma que as crianças encontram de ir além do que já conhecem, e como elas aprendem com isso. Pense nisso antes de sacar o cartão de crédito neste dia das crianças para comprar para suas crianças brinquedos caros e que apenas lhe dão fórmulas prontas de diversão. A infância é capaz de muito mais...

05 outubro 2012

chuva, trovão, trovoada...

O menino que chovia
texto: Cláudio Thebas
ilustrações: Ivan Zigg
editora: Companhia das Letrinhas

Quem nunca presenciou aquela cena típica de uma criança fazendo escândalo, com direito a choros, gritos e debates físicos, por uma bobagem qualquer? As vezes a cena é com a SUA própria criança... Acho que ninguém pode dizer que não viveu ou presenciou algo assim. Bom, eu não posso.

A cena já aconteceu com a minha filha algumas vezes. A primeira foi emblemática, com barriguinha no chão do shopping, braços e pernas se batendo, gritos de muitos decibéis, e uma atenta platéia esperando minha reação. Ela tinha cerca de 1 ano e meio, e o motivo foi um cachorrinho de pelúcia que "respira de verdade" na vitrine de uma loja de calçados infantis - para aumentar minha teima com "brinquedos de verdade"... Depois vieram outras, cada vez menos intensas e menos frequentes, e nenhuma mais em público - que eu me lembre... eu não esqueceria, né? rsrs

O menino que chovia retrata exatamente estas situações, mas de um jeito criativo e divertido. No seu texto todo rimado, Cláudio Thebas em nenhum momento fala de birras, choros, gritos ou lágrimas. Quando contrariado ou frustrado, o menino da história chovia. "E não era chuva, chuvisco, chuvinha. Era chuva, trovão, trovoada. Por qualquer coisa, coisinha, o menino relampejava". Podia ser porque tinha salada no almoço, ou porque seu time perdia no jogo, logo vinham raios para todo lado, e uma chuvarada sem fim... ou até que atendessem seus pedidos. Assim, claro, "o menino foi aprendendo: se ele queria uma coisa, bastava ficar chovendo". E tome-lhe raios, trovões e inundações... te lembra algo familiar???

Alguns versos são impagáveis para mim, como: "O pai imitava macaco, a mãe dançava na pia, tudo isso por medo da chuva, e pra ver se o menino comia". Não tem como não lembrar da minha própria infância... quando eu fazia tempestades e me recusava a comer. Nunca aceitei entrar nessa roda-viva com a minha filha, por puro trauma. Já minha pequena adora a parte que o campo de futebol alaga inteiro, e o goleiro leva um raio no nariz - principalmente pelas ilustrações de Ivan Zigg, e do pobre goleiro sentado sobre a trave... 


E as coisas seguiram assim, até que a família se deu conta que tanta tempestade precisava ter um fim, e que era preciso ensinar ao menino a lidar com as próprias frustrações. O pai tem uma ideia brilhante, que todos ajudam a executar, e o menino logo percebeu que chover já não resolvia nada...

Aqui em casa, a estratégia que mais funciona é a de ignorar, e só dar atenção quando ela está calma para conversar. Com o tempo ela foi percebendo que só perdia com tantas tempestades... mas vocês sabem, existem dias mais nublados, e como o menino do livro, mesmo depois de aprender que tempestades não levam a nada, ela ainda chove quando acorda mal-humorada. E você, tem alguma estratégia para as tempestades infantis?