23 setembro 2013

O desejo de crescer e a sabedoria africana.


As tranças de Bintou
texto: Sylviane A. Diouf
ilustrações: Shane W. Evans
tradução: Charles Cosac
editora: Cosac Naify

Cheguei ao livro de hoje de uma forma deliciosa que não posso deixar de contar: no início de junho fomos a uma grande livraria para eu retirar uma compra que havia feito na internet. Enquanto me esperavam, Thiago e Letícia se esparramaram nas almofadas com alguns livros escolhidos. Quando os encontrei, ele lia As tranças de Bintou, que eu ainda não conhecia, para a filhota que estava no seu colo. Cheguei de mansinho, com medo de atrapalhar o encanto daquele momento, e sentei ao seu lado para aproveitar da leitura também. Encanto realmente era a palavra! O livro é lindo, emocionante, envolvente. Quis levá-lo naquele mesmo instante, mas o lampejo de controle que ainda tenho em relação aos livros me segurou, e ele apenas entrou na minha longa lista de desejos (ou em quarentena, como gosto de dizer). Pois bem, preciso dizer que já há muitos anos decidimos não nos presentear com presentes comprados no dia dos namorados, e geralmente comemoramos com um jantar feito por mim (adooooro) ou alguma programação especial (não necessariamente no dia 12, afinal queremos nos divertir, não estressar). Mas neste dia 12, Thiago me surpreendeu e emocionou com um pequeno embrulho onde estava As tranças de Bintou... os melhores presentes são sempre assim, precedidos de um contexto que os torna especiais.

A história do livro foi criada pela filha de um senegalês e uma francesa, e claramente se inspira nas histórias e lendas africanas. Bintou é uma menina que deseja crescer e deixar de ser criança, porque sonha em ter tranças. Em sua comunidade, as crianças não podem ter tranças, por isso Bintou tem apenas 4 birotes na cabeça. Ela sonha que já é grande, como sua irmã Fatou, e tem lindas tranças como as dela, e quando balança a cabeça, o Sol a segue, e ela brilha como uma rainha. Mas, apesar de ser tão pequena, Bintou tem um enorme coração e é muito corajosa, e por isso um dia conquista o direito de ter tranças, mesmo sendo uma criança... mas sua avó, Soukeye, a mostra como seus birotes podem ser especiais. Bintou é uma menina com quatro lindos birotes na cabeça, o sol a segue e ela está feliz.



Entretanto, o mais especial dessa história está no motivo da comunidade de Bintou não permitir que as crianças usem tranças. É a vovó Soukeye quem conta a Bintou: "Há muito tempo, existiu uma menina chamada Coumba que só pensava no quanto era bonita. ... Todos a invejavam, e ela foi se tornando uma menina vaidosa e egoísta. Foi nessa época, e por isso, que as mães decidiram que as crianças não usariam tranças, só birotes, porque assim elas ficariam mais interessadas em fazer amigos, brincar e aprender."

Ah, a sabedoria africana... "fazer amigos, brincar e aprender" deveria mesmo ser as únicas preocupações e interesses de uma criança. Mas tenho ficado cada dia mais espantada com a forma como nossas meninas estão sendo adultizadas - e cada vez mais cedo. Meninas de 3 anos de unhas pintadas, salto alto e maquiagem! Aliás, quem é mãe de menina sabe a dificuldade que é comprar sandália sem salto para números a partir do 28. 28! A maioria das meninas calça 28 por volta dos 5 anos de idade! Nem vou falar dos malefícios de saltos para quem está com o corpo em formação ou dos riscos da maquiagem, entre eles o uso de metais pesados - isso é o óbvio, alardeado para quem estiver interessado. Queria falar nos prejuízos de ter nossas meninas privadas das delícias da infância, sensualizadas e adultizadas. As crianças são curiosas, querem entender e descobrir o mundo adulto, o que é normal e saudável. Para isso usam o faz de conta, a fantasia. Mas uma criança de 4 anos usar maquiagem diariamente para ir à escola ou roupas sensuais e pouco confortáveis em festinhas de aniversário, pouco ou nada tem de fantasia e faz de conta, ao meu ver.

Porque queremos apressar a vida das nossas crianças? Porque queremos encurtar o tempo que têm para ser apenas... crianças? Esse tempo é único, e vai passar rápido, porque privar nossas meninas de vivê-lo plenamente? Vamos fazer essa reflexão?

01 setembro 2013

Livro para assistir... ou filme para ler


Kinocaixa - 5 livros de bolso
texto e imagens: Mariana Zanetti
editora: Hedra

O que leva um blog a ficar abandonado por seu dono? Sei que as respostas são múltiplas, mas para mim, ela é geralmente: um post/assunto que engasga. Engasguei com um post que nem sei se ou quando vem pra cá. Não consegui escrevê-lo como tinha planejado e não consegui buscar outro livro/assunto. Pffff... Mas essa não é a única explicação. Algumas coisas roubaram minha atenção, mudanças simples mas intensas alteraram minha rotina, e estou reaprendendo algumas coisas que até pensava que sabia. Algumas decisões foram tomadas diante de tudo, e uma das principais foi: reduzir o tempo em frente às telas. A redução começou recentemente e já estou espantando com o tempo que "ganhei". Apenas uma exceção: meu Cachinhos Leitores. Por isso retorno hoje cheia de gás e livros lindos e interessantes.  

Bom, mas o tal engasgo foi quebrado na última quinta com a chegada de um livro que tinha encomendado há alguns dias e esquentou meu coração de verdade. Conheci o Kinocaixa há uns 2 anos, numa biblioteca pública infantil da minha cidade, e desde então ele entrou na minha lista de comprar. Mas nunca o achava em livrarias, só para encomenda, e o tempo foi passando, e cheguei a esquecer dele. Até que há alguns dias, revisitando minha lista, resolvi fazer uma busca por ele na internet, e percebi que dos meus sites de confiança, apenas um (o da livraria física que tem teatro em todas as suas unidades) ainda tinha o item. Comprei na mesma hora. E ele chegou quinta, inusitado como eu ainda lembrava dele! Uma caixinha pequena com cinco mini-livros, uns mais gordinhos que outros, mas todos guardando surpresas deliciosas: Lá vai o trem, Chuva de Verão, Viagem à Lua, Em São Paulo e Vida Besta.


Mariana Zanetti deu vida aos kinolivros com carimbos, em preto e branco. Os flipbooks contam uma história com suas imagens, e trazem um comentário sobre ela nas páginas de verso. Uma brincadeira deliciosa!

Vida Besta. "Será o tédio dos peixes igual ao tédio da gente?"


Os livros estão no youtube. Este é o meu favorito (uma bicicleta passando calmamente entre o engarrafado e alucinado trânsito de São Paulo) , mas todos os cinco têm vídeos lá.

A minha pequena adorou! Levou para a escola, para a aula de artes, para o play do prédio, e todos adoraram. Quando fui pegá-la na escola as crianças me cercaram: "tia, você comprou onde? Vou pedir a minha mãe para comprar para mim também" rsrsrs Em meio a tanta porcaria que esses pequenos querem imitar e "ter também", fico feliz que a simplicidade criativa e alegre dos kinolivros tenha chamado suas atenções também. Os nossos já estão com as capas bem marcadinhas de tanto uso... fico feliz e vou aprendendo a controlar minha mania de ter livros intactos...

Ah, e estou aprendendo também a controlar meus engasgos de posts. As vezes é porque não consegui tirar aquelas fotos que queria, ou fazer aquela consulta, ou ter aquela inspiração que acho que o livro merece. O último foi por tratar de um fato que ainda não está resolvido para mim. Mas o que preciso aprender é que, independente do motivo, sempre haverá algo especial esperando a vez para desengasgar o blog. E quando mais rápido, melhor...