14 fevereiro 2012

queria ser... flicts

Flicts - Edição Comemorativa/40 anos
texto e ilustrações: Ziraldo
editora: Melhoramentos

Eu pirei há alguns anos atrás, quando foi lançada a edição comemorativa de Flicts. Aliás, antes disso preciso dizer que não tive acesso a Flicts na minha infância. Na verdade, descobri sua existência já como mãe, portanto há poucos anos, numa livraria da cidade, quando encontrei uma amiga que procurava um presente. "Ah, claro, Flicts, vou levar. Este sempre agrada", ela disse. Como eu não conhecia um livro que sempre agrada? Sabe-se lá, mas eu não o conhecia. Devorei Flicts em pé, na livraria, e continuei perguntando como eu não o conhecia. Minha filha era um bebezinho, e uns 2 anos depois chegou às livrarias sua edição comemorativa de 40 anos. É, 40 anos, e eu não o conhecia...

Voltando ao início, quando soube da edição comemorativa pirei. Tudo bem que não foi um livro da minha infância, mas agora que eu o conhecia, era certo que ele precisava pertencer ao meu acervo, e era certo que minha filha precisava conhecê-lo em sua infância. E claro que precisava ser a sua edição comemorativa. Mas, e sempre tem um mas, a dita edição comemorativa foi lançada a um preço, digamos, indigesto para mim. Sim, admito, eu gasto considerável parcela da minha renda com livros, infantis ou não, mas me recuso a pagar valores, assim, pouco racionais. Então aguardei, como geralmente faço quando o objeto de desejo não cabe no meu bolso, e no ano passado a oportunidade me apareceu, e eu a agarrei com todas as forças.

Só o entreguei a Cachinhos há algumas semanas, e nesse tempo o li umas 4 vezes, antes dela dormir, e em nenhuma ela ouviu a história até o fim. O sono a roubou antes do "grand finale" (droga) em todas as vezes, e eu fiquei pensando que ela talvez não tivesse absorvendo nada do livro. Mas hoje, ainda no início da história, onde diz "não existe no mundo nada que seja Flicts" ela me disse entusiasmada "meu prato, mamãe, meu prato da escola é flicts". Na verdade é uma "forçação de barra", mas sim, a cor do seu prato na escola lembra "de longe" a cor flicts, e ela associou imediatamente. Depois dormiu, antes de descobrir que, além do seu prato, a lua... ahhhh... a lua é flicts.

PS1: impossível terminar sem dizer que Flicts, embora escrito em 1969, fala de coisas muito atuais para nossas crianças, como exclusão e bullyng. Mas Flicts não é um menino querendo aceitação, é uma cor, buscando um lugar no mundo para se encaixar. As ilustrações de Ziraldo são tão simples, mas junto com seu texto tão sinceras, que é impossível não se identificar com algo. É o primeiro livro de Ziraldo, um clássico, que vale a pena se desvendado.

PS2: alguém pode me ajudar com a programação de postagem no blogspot? Não tenho dúvida de que deve ser uma coisa bastante simples, mas não consigo fazer. Eu escolho opções de postagem, aciono a opção "Programado em" e ponho a data e o horário que quero. Para se ter uma ideia, escrevi este post em 12/02 e programei para 14/02 às 8:00h. São 15:35h do dia 15/02 e até agora nada... Ajudinha para esta blogueira meia-boca?

07 fevereiro 2012

Quando o desejo faz chover...

Severino faz chover
texto: Ana Maria Machado
ilustrações: Ellen Pestili
editora: Salamandra

Em dezembro último recebi um e-mail muito interessante de uma amiga: o convite para participar de um clube do livro. Sabe esses grupos tipo pirâmide? Só que de livro infantil. A proposta era bastante simples. No convite vinham dois nomes, de duas crianças, com idade e endereço completo. Pronto, você mandava um livro para a primeira criança e preparava um outro e-mail com o nome da segunda criança em primeiro lugar e o nome da sua criança em segundo. Mandava para 6 pessoas e em 15 dias teria, teoricamente, recebido 36 livros. Simples e genial... se as pessoas simplesmente cumprissem as regras. Quem me repassou já havia feito uma ressalva de que quem não se interessasse ou achasse que não cumpriria, devolvesse o e-mail comunicando que não queria participar, e assim se poderia encaminhar a mensagem a outra pessoa – repeti a ressalva para os meus convidados. Apenas uma das pessoas que mandei me respondeu dizendo que não gostaria de participar, mas até hoje, 45 dias depois, nada de livro chegando. Ok, ainda pode chegar, quem sabe? Afinal, o meu mesmo foi meio atrasadinho. Tá, foi atrasado, consideravelmente atrasado. Era final de ano e eu me enrolei um bocado.

Mas, mesmo enrolada, me joguei de verdade na brincadeira, e fiquei imaginando como seria a menininha de 6 anos que era o primeiro nome daquele e-mail. Tarefa difícil, mas eu tinha outra dica: ela é nordestina, ou pelo menos, mora atualmente no Nordeste. Fui a livraria com essas idéias na cabeça e fiquei olhando e olhando dezenas de livros, até que bati o olho em Severino faz chover e era o fim da minha busca. O livro é de Ana Maria Machado, que dispensa comentários, e as ilustrações de Ellen Pestili, que fez um trabalho lindo neste livro, usando diferentes materiais e técnicas.

Severino era um garoto comum, como tantos outros, alegre e cheio de ideias. Mas sua terra era diferente da maioria das outras, pois era seca e empoeirada. Lá quase não chovia. E tudo ia secando, murchando, amarelando. Mas Severino queria fazer chover, queria dar esse presente a todos no lugarejo onde morava. E junto com as crianças da redondeza começou a bolar planos para fazer a chuva chegar.

Eu que fui criada na capital, mas passei muitas férias no semi-árido nordestino, não poderia ficar imune a uma história tão doce e forte. O livro fala da seca mas fala também de esperança, de alegria em meio a tristeza, e do milagre do sertão renascendo com a chuva. Eu já vi isso tantas vezes: a secura que rachava a terra e matava os animais, que empoeirava e amarelava o horizonte, de repente tornar-se verde, enchendo os rios, colorindo os jardins e preenchendo tudo de vida e movimento, depois de alguns dias de chuva.

Ana Maria termina o livro dizendo que para as crianças amigas de Severino foi ele quem fez chover. Ela também acha, e joga a pergunta ao leitor. Eu perguntei a minha pequena quem ela achava que tinha feito chover, e para meu espanto ela disse que não tinha sido Severino. Em fração de segundos pensei “mas como? E o imaginário infantil?”. Mas ela emendou rapidinho “foi o passarinho, mamãe”. Ah, claro, o passarinho!!! - mas para entender, tem que ler o livro ;)

PS1: gostei tanto do livro que ele foi um dos meus eleitos para a ciranda de livros da escola da Cachinhos. Todo ano é solicitado no material escolar três livros infantis próprios a idade dos alunos, a escolha. E é uma escolha que eu adoooro, sempre gasto bons momentos elegendo os três daquele ano.

PS2: fiz uma pequena alteração no texto do e-mail do clube do livro. É que no original o nome era "clube do livrinho"... mas esse diminutivo me incomoda bastante. Como assim livrinho? São livros infantis, e eles não necessariamente são livrinhos, num sentido pejorativo (embora possam ser sim). Vejo o termo "livrinho" ser usado muitas vezes com o raciocínio de que livro de adultos são LIVROS, mas livros de crianças são bobinhos, fraquinhos, apenas LIVRINHOS. Vamos pensar nisso?