24 janeiro 2012

Para criar passarinho

Para criar passarinho
texto: Bartolomeu Campos de Queirós
ilustrações: Guto Lacaz
editora: Global



Os livros e pensamentos de Bartolomeu Campos de Queirós passaram feito um furacão pela minha vida. Eu não conhecia o escritor mineiro até cerca de 1 ano e meio atrás. Nem sei como podia não conhecer seus livros, acho que estava em Marte!!! Foram mais de 40 títulos para o público infanto-juvenil. E que livros...


Bartô tinha o dom da escrita, aquele dom que não está disponível para qualquer um. Seus textos saem precisos, escorregam tranquilos ou saltam às cambalhotas como se tivessem vida, com a exatidão de quem sabe exatamente para que veio. Um afago, uma risada, uma lágrima, um aperto constrangedor. Precisas, cada frase sabe exatamente seu papel no texto. Mas não é só isso, Bartô também era o escritor das metáforas, e nisso ele dava baile. As frases tinham precisão, mas vinham costuradas em seus alinhavos metafóricos, e assim ele dizia o que queria quase sem parecer. Ah, e tinha o Bartô brincalhão, que brincava com as letras, com as palavras, seus significados. O nosso português era um parque de diversões para ele, que trocava, rimava, destrocava, e mostrava a magia que há no nosso alfabeto.


Descobrir o escritor Bartolomeu foi para mim revelador. Mas também não foi tudo. Pude também descobrir um pouco do Bartô educador, estudioso do processo educativo. Idealizou o Movimento por um Brasil Literário, deu aula para educadores e ministrou palestras sobre o tema por todo o Brasil. Palestras que sonhei um dia assistir. Ele deu uma entrevista ao Projeto Paiol Literário que não me canso de ler e reler. Estou sempre descobrindo algo novo que não percebi na última leitura. Imprimi e distribui na escola de minha filha, a amigos educadores, e tenho uma cópia na minha pasta de trabalho. Leiam, é longo mais vale a pena. Vou reproduzir abaixo a parte que mais gosto:


" Quando entrei na escola, já sabia ler e escrever — o meu avô já havia me ensinado. Mas tinha tanta vontade que a dona Maria Campos — minha primeira professora — gostasse de mim, que resolvi esquecer tudo. E aprendi tudo outra vez. Ela ficava tão feliz comigo aprendendo tudo o tempo inteiro, rápido. E tudo o que queria na vida era que ela gostasse de mim, mais nada. Quando dava aula para professores em especialização, brincava com eles. Acho que a criança quando entra na escola, não aprende porque vai prestar concurso, vestibular, nada disso. Ela aprende para ser amada por aquele que sabe. E o professor é aquele que sabe e ela quer ser amada por aquele que sabe. Acho que a aprendizagem no início da infância está na ordem puramente do afetivo. Sem isso não dá."


Mas deixa eu falar do livro que trouxe hoje. O meu favorito dentre os escritos por Bartô que já tive contato. É um livro juvenil, com bastante texto, por isso ainda não foi apresentado a Cachinhos. Está no meio dos meus livros mais queridos. Nele Bartolomeu abusa do seu dom, de usar as metáforas, de fazer as palavras escorregarem em uma prosa poética precisa, como sempre. Mas o livro é mais que isso, para mim é um tributo a liberdade, ao fazer-se livre para bem deixar livre. Escrevendo este post o li e reli com a difícil missão de escolher a minha página preferida para reproduzir aqui. Não consegui, não sem sentir dúvidas. Por isso vou reproduzir duas. A primeira porque seu alinhavo fala mais forte para meu momento atual. A segunda porque é a última página do livro, e de certa forma tenho a sensação que sintetiza o que o artesão Bartô queria dizer.


"Para bem criar passarinho é conveniente amar as quedas de cachoeiras, as águas evoluindo nos rios e barulhos de chuva sobre as telhas, imitando grãos em peneira. Isso se faz possível se houver liberdade para as buscas, tempo para a solidão e saudades mansas de outros lugares ainda por conhecer"


"Para bem criar passarinho é necessário prender o universo - dos mares ao firmamento - em uma gaiola respirando azul e infinito por todos os lados. É seguro declarar que nenhum espaço é demais para os voos. Para bem criar passarinhos é preciso experimentar as asas, sempre."

2 comentários:

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  2. Gostei muito deste blog, pois como vocês, também amo a literatura infantil. Passeando por aqui, dá para sentir o cheirinho mágico das palavras que encantam e fazem sonhar. Parabéns por este espaço cheio de criatividade e alegria!
    Ficarei contente com a visitinha em meu blog, que também é direcionado à literatura infantil:

    docessonhosdepapel.blogspot.com

    Que Deus abençoe vocês!
    Com carinho,
    Angela

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