FLOP
A história de um peixinho japonês na China
ilustrações: Laurent Cardon
editora: Panda Books
Morei em casa durante toda a vida de solteira, e quando criança tivemos cachorro, gato, pato, galinha, preá (porquinho da índia), pombo (meu pai fez casinha de madeira no alto da casa, jogávamos milho duas vezes por dia no quintal, e em pouco tempo eram centenas), peixe, passarinho e coelho. Não todos juntos, claro, mas em épocas diferentes. Sendo assim, sempre achei muito normal ter animais de estimação, embora, confesso, nunca tenha morrido de amores por eles.
Mas nas voltas que a vida dá, casei-me com um homem que não suporta ver passarinho na gaiola e bichinho preso, e sempre argumentava comigo que não era justo privar o voo a um pássaro só pelo prazer do humano de ouvir seu canto quando quisesse. No começo achei seu discurso meio exagerado, meio politicamente correto demais, mas fui percebendo que ele tinha toda razão - e hoje, principalmente depois de conhecer o IMPERDÍVEL Para criar passarinho, chego a ser ainda mais radical que ele. É que hoje para mim é muito absurdo que um animal seja privado da sua liberdade, do seu habitat, apenas para o prazer humano de ter um "bichinho de estimação". Acho tão louco que o homem tenha alterado, inclusive geneticamente, espécies a ponto delas não conseguirem mais viver sem o homem. Não sabem buscar comida, nem se proteger do frio, nem seguir seus instintos!!! São "domesticados" e agora vivem para serem os "melhores amigos do homem".
Bom, essa é apenas a minha opinião, mas quero deixar claro que respeito muito quem pensa diferente e curte a ideia de ter um animal de estimação. Tenho inúmeros amigos e familiares que amam seus bichinhos e se dedicam verdadeiramente a eles. É uma outra forma de pensar e sinceramente eu respeito quem pensa assim - embora não consiga entender, vou confessar... Não dá pra aguentar é maus tratos, mas esse é outro papo...
Fato é que virei mãe, minha menina tá crescendo, e como esperado, pedindo um bichinho de estimação. Pediu cachorro, hamster, calopsita... eu tentei desconversar, argumentar, negociar, mas vira e mexe o assunto volta a tona - e eu balancei! É minha filha pedindo, estudos indicando as vantagens do convívio das crianças com os animais, amigos testemunhando da alegria de ter um bichinho... realmente balancei! Conversamos longamente e ela conseguiu me convencer a ter um pequeno aquário, desses com um peixinho beta. É, achei que era "aceitável", os peixinhos já estão na loja para venda mesmo, e não sofreriam tanto por estarem em um apartamento que fica vazio de humanos a maior parte do dia. Chegamos a visitar uma loja, mas ela não vendia nada de peixes. Marquei uma ida a Ceasinha para o final de semana seguinte, onde eu sabia, havia venda de tudo para criar peixinhos.
E foi então que uma ida despretensiosa a livraria me apresentou Flop. Eu folheava suas páginas e mal acreditava no que via... era incrível tê-lo conhecido exatamente naquela semana. Conversei com meu marido que estava comigo na livraria e saí de lá decidida a quebrar o acordo feito com a filha - mais um item para a minha longa lista de vacilos maternos.
Flop é um livro lindo, de uma sensibilidade impressionante, que conta apenas com imagens a história de um peixinho japonês comprado por um menininho em uma loja de animais. O que mais me tocou em Flop é que ele deixa sim a mensagem de que os animais devem ficar livres, mas não usando apenas argumentos negativos em relação aos animais de estimação. Adoro livros que tratam as crianças como seres inteligentes e críticos, capazes de perceber que tudo tem dois lados... É que peixe e menino se tornam logo grandes amigos e se divertem muito juntos, deixando muito claro a grande afeição e cuidado que o garoto tem por seu bichinho, e o quanto este é bem tratado e feliz ao seu lado. Mas a verdade é que o peixinho foi da loja para o aquário solitário, e sequer sabe que existem outras possibilidades para sua vida. E as coisas seguem assim até o dia em que o peixinho descobre que poderia ser mais livre e feliz vivendo com outros peixes...
O final do livro é lindo, e reflete o verdadeiro amor que o menino tinha por seu bichinho, um amor capaz de entender que a liberdade e felicidade do outro é muito mais importante que o nosso prazer egoísta. E é incrível como as crianças conseguem acompanham toda a história sem o uso de texto, percebendo com facilidade as nuances e mudanças da trama. Minha pequena entendeu e me contou tudo direitinho, mas quando percebeu minha real intenção... chorou, argumentou, chantageou. Fui sincera e disse que tinha concordado com o aquário mas depois percebi que não era legal que um peixinho que podia ter muito mais espaço ficasse preso em um aquário tão pequenino, sem sua família, sem nenhum outro animal para conviver. Combinei que poderíamos ir sempre ao parque de Pituaçu e ao dique do Tororó alimentar os peixinhos na lagoa (o que já tínhamos feito várias vezes) e que quando ela crescer e começar a tomar suas próprias decisões ela poderia escolher ter um bichinho de estimação, mas que mamãe e papai não concordavam em ter bichinhos em nossa casa. Ah, papo difícil, viu? Mas ela se aquietou, e quase não fala do assunto - pelo menos por enquanto.
PS1: não sei se agi certo ou não, mas agi como meu coração pediu. Acredito que essa é sempre a melhor opção.
PS2: aproveitei a nossa visita ao lindo Oceanário de Lisboa para conversar mais um pouco com ela sobre o assunto... aquele é sem dúvidas o maior aquário que já vimos, mas o mar... ah, o mar é imensidão...
cara a cara com uma arraia no Oceanário de Lisboa
PS3: dei Flop de presente para uma menininha linda e o danadinho fez um sucesso danado em outras bandas...
Olá! Mil,
ResponderExcluirComprei um exemplar do Flop para dar
de presente. Que livro lindo! Adoro
livros de imagens. Ontem, eu soube
que ele recebeu o Prêmio da REVISTA
CRESCER - OS 30 MELHORES LIVROS
INFANTIS DE 2012. Merecido!
um beijo
Cristina Sá
http://cristinasaliteraturainfantile
juvenil.blogspot.com