08 julho 2012

Um príncipe convencido...

O príncipe com orelhas de Burro
texto: Luísa Ducla Soares
ilustração: Carla Manso
editora: Soregra Editores

A Cachinhos faz ballet desde o ano passado. Confesso que esse não era um projeto meu, ou seja, eu nunca sonhei em ter uma filha bailarina, mas acabei gostando, sim, da ideia. Tudo começou porque ela pediu, insistiu, vendo algumas coleguinhas da escola seguindo para suas aulas de ballet. Entretanto, embora goste bastante, não vejo muito empenho ou seriedade na aluna que ela é. Já assistimos algumas aulas públicas, e sei que tudo é uma grande brincadeira para ela, que fica meio dispersa em boa parte da aula. Bom, até aí tudo bem. A questão é que no mês passado ela participou do primeiro espetáculo deste ano. Faltou mais de um mês de aulas por conta da viagem, e eu pensei que ela não teria condições de participar. Mas conversei com a professora e esta me tranquilizou. Ela já havia participado dos dois espetáculos do ano passado e tinha condições sim de participar deste. Ok. O espetáculo aconteceu e ela estava linda, dançando um cancan com sua turminha.

Mas, no dia seguinte, ela me surpreendeu ao afirmar firmemente que não queria ir para a aula. Chorava e repetia sem parar que não iria. Em um ano e meio ela nunca tinha se negado a ir à aula! Sabia que tinha algo errado e fui tentando descobrir. Uma conversinha de "pé de ouvido" e a verdade veio a tona: uma coleguinha reclamou algumas vezes durante os ensaios que ela era muito lenta e não acompanhava a turma. Contou isso chorando e visivelmente envergonhada. Dá para imaginar o estado do meu coração de mãe? Hum!!! Conversamos bastante, e eu não a deixei desistir de ir à aula naquele dia. Disse que ela poderia até desistir depois, mas não deixaria de ir a aula porque uma coleguinha achava que ela dançava devagar... fiz um discurso de que cada um dança como sabe e quer, e que essa é a beleza de qualquer arte. Que ela estava no ballet para se divertir, não para dançar perfeito ou melhor que ninguém. Bom, ela foi para a aula afinal, e na aula seguinte, a última do semestre, estava ótima e nem cogitou a hipótese de não ir - depois soube que ela confessou o assunto para uma funcionária que ela adora e esta conversou com a professora, que conversou com as crianças na sala, sem citar nomes.

Fiquei pensando bastante sobre o assunto e resolvi resgatar O príncipe com orelhas de burro, um dos livros que trouxemos da viagem à Europa. Como já contei em outro post, na nossa ida a uma livraria especializada em literatura infantil na capital lisboeta, a Cabeçudos, busquei um livro de um autor português que fosse tradicional por lá, e claro, não tivesse sido lançado aqui. Fui muito bem atendida na loja, e me foram oferecidas algumas ótimas opções, mas O príncipe com orelhas de burro me conquistou de cara. Luísa Ducla Soares pode ser mesmo considerada uma autora tradicional. Com mais de 45 títulos infantis e vários prêmios, ela expressa bem a literatura infantil portuguesa.

O livro conta a história de Máximo, que é mesmo o máximo, principalmente depois que três fadas são chamadas para lhe "fadar" (adoro estes termos lusitanos). A primeira fada deu-lhe beleza como nenhum outro, a segunda, inteligência como nenhum outro, mas a terceira... avaliando que com tais virtudes ele se tornaria um grande convencido, deu-lhe orelhas de burro. Pois é, o príncipe que era o máximo, o mais belo e o mais sábio de todos, tinha agora longas e macias orelhas de burro. Embora já o conhecesse, a primeira pergunta que minha pequena fez foi "o que é ser "um convencido""? Expliquei que era achar-se melhor que os outros, e aproveitei para falar sobre como cada um de nós temos nossas características próprias e não devemos ser criticados ou julgado por isso.

O Máximo nem pode ser julgado, pois seus pais esconderam suas orelhas de todos os outros mortais, e esse era o segredo deles. Mas um dia a informação chega aos ouvidos de todos, e Máximo percebe que agora não precisa mais esconder suas orelhas de ninguém, e fica muito feliz. Mas o Rei e a Rainha ficam desesperados, e exigem que a fada retire o tal feitiço. Ahhhh, mas Máximo já tinha descoberto muitas vantagens de ser um príncipe com orelhas de burros, como ouvir "os passos das formigas, as falas dos peixes e a música das estrelas", coisa que ninguém mais conseguia fazer. Por isso ele pediu a fada que mantivesse seu "defeito" que lhe era tão especial, e ao mesmo tempo o  aproximava de todos os outros humanos que eram discriminados. Uma história linda e divertida, para nos lembrar que nossos "defeitos" têm sempre um lado vantajoso. E que príncipes e princesas perfeitos... são no mínimo muito chatos...

Um comentário:

  1. Que história linda! A da Cachinhos e do príncipe Máximo.
    Que legal aprender aqui o verbo "fadar".
    Beijos para vocês!

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